A solidariedade não existe  

A notícia de uma empresa que fechou com ou sem aviso prévio deixou de ser notícia. Saber que de repente, centenas de trabalhadores ficaram do dia para a noite, sem empregos e sem os únicos rendimentos, aqueles que pagam os empréstimos da casa, aquelas coisas comezinhas como comer ou vestir, comprar os medicamentos ou pagar a escola dos filhos, já não chamam a atenção de ninguém, poucos são os que se incomodam a sério, quase ninguém se inquieta, já não suscita raiva, indignação, cólera, já não causa protesto, os fechos das empresas passaram a ser banais e naturais, dizem-nos que agora é assim, que são as dinâmicas da economia, que é assim que as sociedades se desenvolvem e regeneram. O que me incomoda não é que os senhores de barriga cheia nos tentem impingir estas ideias. O que me irrita mesmo é que tenhamos desistido de lutar e sobretudo deixado de ser solidários com o sofrimento dos outros. Somos todos muito egoístas!

Este apontamento serve apenas para mostrar a minha solidariedade com os 32 trabalhadores do Primeiro de Janeiro, despedidos sem uma explicação, um esclarecimento, uma razão, ao mesmo tempo que o seu posto de trabalho era ocupado por outros trabalhadores do grupo, sem mais, sem cuidarem do dever de solidariedade com os seus colegas e camaradas de trabalho e de profissão, mas ao invés mostrarem-se maus companheiros, pessoas falhas de valores, oportunistas, esquecendo-se que o que hoje acontece aos seus colegas, lhes poderá acontecer a eles, num futuro mais próximo ou mais longínquo.

No Esgravetar, Filinto Melo, jornalista do O Primeiro de Janeiro, vai dando-nos conta das reacções e dos andamentos do processo.


Ser solidário-José Mário Branco


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