Não chores, Chora!  

Aproxima-se o XI congresso sindical da GCTP com os vícios do costume. Enfim, do mal o menos, vale a continuidade de Carvalho da Silva, para dar alguma credibilidade à coisa e as garantias mínimas de que a CGTP, ainda que não conseguindo abrir-se o suficiente a outras sensibilidades e a novas formas de encarar a organização e as lutas, nestes novos tempos de globalização, também não será, a reserva exclusiva, para a luta política, sobre um calendário partidário, à revelia de processos democráticos e transparentes, que envolvam os trabalhadores na discussão e decisão colectivas.

Este Congresso repete-se nos processos de discussão e nos métodos de participação. O quer dizer que não há discussão, nem eleição de delegados, decorrendo tudo, nos gabinetes e nos encontros sindicais, onde “democraticamente” tudo está decidido, sem nenhuma participação dos associados.

Há muitos anos, no primeiro congresso de todos os sindicatos, em que participei, foi tudo, mas mesmo tudo, muito diferente, pelo que se pode dizer, sem perigo de ser desmentido que, em algumas coisas, o movimento sindical, não parou no tempo, mas sim que recuou onde não podia recuar… na democracia sindical. Nessa altura, como delegado sindical e membro da comissão preparatório do Congresso do meu sindicato, participei em dezenas e dezenas de plenários de trabalhadores, onde se discutiam teses, estatutos, eleição de delegados, em alternativa. Agora tudo se passa nos gabinetes sindicais com os dirigentes sindicais a aprovar os documentos e a nomear os congressistas, seguindo-se ou não (creio que sim – se bem me lembro do último Congresso) um plenário dos sindicatos, sob o escrutínio das Uniões Sindicais.

Esta forma de funcionamento não é inocente. Os responsáveis são, por um lado, todos os dirigentes sindicais que não desenvolvem, internamente, processos de decisão democrática, transparente e participativa (apenas depende da vontade dos próprios), e sobretudo, pelo predomínio que detêm nas estruturas, são aqueles dirigentes, que se comportam como meras “correias de transmissão” do PCP, usando a maior e mais importante Central Sindical, como trincheira para o combate político partidário, sem cuidar dos danos ao próprio movimento sindical, que deve ser unitário e plural, para um mais eficaz combate sindical e político. As vozes minoritárias de dirigentes da CGTP, clamam por mais abertura, mais democracia, criticam estatutos “blindados”; que impedem a democracia sindical, a participação dos associados e a expressão de posições contrárias. Criticam o PCP de limitar a representação de outras sensibilidades e partidarizar o movimento sindical.

O sindicalismo não existe em Portugal. O que existem são muitos sindicatos e muitos dirigentes e delegados sindicais, na sua grande maioria, “profissionalizados”. E com pouca vontade de voltar ao local de trabalho. O mundo do trabalho com a globalização, a forte concorrência empresarial, a introdução das novas tecnologias, estimulou a individualidade em vez do colectivo, a competição em vez da solidariedade, criou uma nova classe de trabalhadores, com mais formação e mais qualificações, mas simultaneamente, mais desprotegidos no emprego e nos direitos sociais.



Ontem, os problemas eram os salários, a segurança no trabalho, as condições sociais, uma carreira profissional, hoje os problemas são a precariedade, o trabalho intermitente, o espectro dos despedimentos. Enquanto não entenderem estas realidades que implicam novas formas de organização, novos modos de funcionamento, outras formas de luta, os novos trabalhadores não se sindicalizam e os antigos tendem a abandonar os sindicatos.



O exemplo da Auto-Europa foi uma pedrada no charco no formato habitual das negociações, mas alvo de criticas ácidas dos burocratas sindicais, por aceitarem perder dias de trabalho, congelamento salariais e objectivos de produtividade, em troca da garantia de emprego e outros pressupostos que com a melhoria da situação financeira da empresa, se reverteram em maiores benefícios. Já os 1200 trabalhadores da Opel da Azambuja, numa situação análoga, depois de empurrados para greves sem saída, quando quiseram fazer marcha-atrás, já era tarde, a empresa deslocalizou-se, para Espanha e os trabalhadores perderam o emprego. Os representantes dos trabalhadores, também.

E aqui chegados vamos ao que me serviu de pretexto para este artigo. A recusa do Sindicato dos Metalúrgicos (PCP) de indicar António Chora, na lista candidata ao Conselho Nacional da CGTP, apesar de proposto por delegados sindicais e pela Comissão de Trabalhadores, sabendo-se que a Auto-Europa, representa 20% dos trabalhadores filiados no sindicato.

Na verdade não é o António Chora, presidente da CT da Auto-Europa, que se está a vetar. Também não é o militante do Bloco de Esquerda. Ou o deputado em situações de substituição. Não! O que se está a vetar é o António Chora que negociou um acordo favorável aos trabalhadores, em desalinho com modelos inconsequentes e desajustados que arrastam derrotas e desesperanças nos trabalhadores. São destas coisas que se deveriam discutir no Congresso da CGTP.


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