As eleições em Angola  

Não adianta falar em eleições viciadas, na utilização abusiva do aparelho do estado, na desproporcionalidade de meios, em irregularidades nas mesas de voto, na parcialidade da comunicação social, no caciquismo local, sei lá em mais em quê… isso existiu certamente, em menor ou maior grau, mas no saldo, o acto eleitoral acabou por decorrer com a normalidade possível e sem que pareça ter havido fraude eleitoral, num país sem experiência eleitoral e democrática. Mas se tudo isso influencia as eleições, não terão sido determinantes no resultado final, segundo parece, neste caso concreto.

O que fica é que os angolanos, apesar de serem governados por um bando de corruptos e ladrões, e apesar de mais de 10 milhões dos 16 milhões de angolanos viverem com menos de 2 dólares por dia e com enormes dificuldades nas coisas básicas, deram o seu voto, de forma esmagadora ao MPLA.

Serão os angolanos estúpidos? Ou pelo contrário revelaram uma enorme sensatez? Pessoalmente seria incapaz de dar o meu voto ao MPLA. Mas talvez a maioria dos angolanos sejam mais espertos que eu. Serão decerto. Foram as suas escolhas, eles lá sabem porquê. Eu vou reflectir melhor sobre os resultados. Talvez chegue a algumas conclusões que me assustem.


5 comentários

  • Anónimo  
    8 de setembro de 2008 às 13:13

    Finalmente leio um post sensato sobre as eleições em Anogola.
    Eu, que nasci lá mas não tenho nacionalidade, e que também partilho a sua opinião sobre a governação do MPLA, se pudesse votar, e se a escolha fosse MPLA/UNITA, não teria dúvidas em votar no MPLA.
    É preciso conhecer Angola e os angolanos, ter de alguma forma vivido o pós 25 de Abril, para entender que o MPLA sempre foi um partido nacional e popular, o "pai" da independência, enquanto a UNITA nunca conseguiu sair de uma visão regionalista do país.
    Que angolano no seu perfeito juízo trocaria agora os experimentados quadros do MPLA pelos homens que viveram os últimos 30 anos na mata ou no combate político mas sem qualquer experiência de gestão?
    Um olhar mais atento sobre as promessas eleitorais do MPLA encontrará promessas que reconhecem o actual estado de coisas, tais como o combate à corrupção e à pobreza. Provavelmente os angolanos decidiram dar mais quatro anos de benefício de dúvida.
    E viva Angola, espero que desta seja de vez...

  • Anónimo  
    8 de setembro de 2008 às 15:54

    Durante antes, foi meu entendimento que a solução para a paz, a democracia e até a liberdade para Angola e para o povo angolano, passava pela eliminação física de Jonas Savimbi…

    Enganei-me!

    Pensava então, como cantava o Zeca, que «(…) Veio da mata / Um homem novo / Do M. P. L. A. (…)»

    O meu pensamento estava errado. José Eduardo dos Santos, a filha e toda a camarilha que o rodeia, encarregaram-se de o demonstrar.

    Estava enganado! Contudo a minha crença (no homem novo) leva-me de novo a trautear as ultimas estrofes da mesma musica do Zeca. «Levanta-te / Se novos donos / Querem pôr tronos / Sobre o teu chão / Por cada morto / Nasce um irmão / Colonialismo / Não passará... »

    Estava enganado na solução que preconizei para Angola [eliminação fisica do Savimbi] mas tal não significa que Savimbi na minha otica passasse de besta a bestial. Não! Bem longe disso. Savimbi foi o que foi. Savimbi foi sobretudo um oportunista a soldo do imperialismo e um criminoso de guerra. Um homem de jogo duplo – não esquecer as suas ligações à PIDE para enfraquecer e ganhar terreno ao MPLA durante a guerra de libertação. Repito, a sua morte infelizmente, não contribuiu para a paz em Angola.

    Talvez por isso, por esse erro de analise, ou de solução, desde então tenho dificuldade em apoiar soluções politicas que passem pela eliminação fisica de alguem.

    O combate é politico e sobretudo de ideias e de cultura.

    José Carrilho

  • Anónimo  
    8 de setembro de 2008 às 18:14

    Obrigado João. As lições chegam-nos, tantas vezes, de onde menos se espera, do saber da experiência feito, de uma dose de pragmatismo, e/ou da forma desprendida, despreconceituosa e independente, como olhamos as coisas ...e assim, com um distanciamento mínimo, conseguimos chegar às melhores conclusões. Eu já devia ter aprendido isto. Ou melhor aprendi mas também me esqueço ...às vezes, mais do que as que gostava. Mas alguma coisa vai mudar. Obrigado.

  • Anónimo  
    8 de setembro de 2008 às 18:28

    Carrilho, amigo, muitos de nós, que andamos na militância política há muito e por onde andamos, chegamos a pensar em soluções que se mostraram erradas. Como tu, não creio que a eliminação física de alguém seja a solução, ou podendo ser, ou ajudando a ser, eu não a defendo, creio mesmo que nunca a defendi, mas sinceramente, não era capaz de jurar.

    O MPLA foi formado no combate político contra a ditadura, já sobre a Unita há muitas dúvidas e contradições. O que importa analisar é que nem a Unita foi alguma vez solução, nem o MPLA foi o que todos pensamos que poderia ser. Mais uma lição. Muito cuidadinho e nada de cheques em branco aos dirigentes políticos.

  • Lucifer  
    9 de setembro de 2008 às 14:50

    Caro Fernando
    Antes de mais obrigado pelos teus votos.
    Como é visivel não posso descançar.
    As eleições em Angola, bem ou mal expressam a vontade do Povo Angolano. Obrigado ou não, pela experiência que tenho o Povo desse País tem tudo menos de estúpido. Podem ter sido enganados antes, agora e depois, mas sabem zelar pelos seus interesses pessoais. Só é pena que os não deixem fazer em maior liberdade.
    Pelolo menos foi isso que eu notei nas três vezes que lá me desloquei após 1969. Não vi progressos em lado nenhum, cont´rariamente ao que diz o nosso primeiro.
    Espero agora que melhorem as suas vidas e acabe de vez com a tirania.

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