O nacionalismo proletário do PCP  

Regressado de Angola depois de uma visita a convite do MPLA, Jerónimo de Sousa declarou que “não se sente a corrupção” naquele país e que o Governo de Angola está a fazer “um esforço claro no combate à corrupção”.

Estranho: 1) Angola é o país mais corrupto dos países africanos que falam a língua portuguesa e um dos mais corruptos de África. 2) O Presidente José Eduardo dos Santos (a quem a Suíça bloqueou 100 milhões de dólares) e a sua filha Isabel dos Santos, de trinta e poucos anos, possuem colossais fortunas e controlam toda a economia nacional. 3) Os negócios do petróleo enriquecem todos os dias os dirigentes, os mediadores, os funcionários do aparelho de Estado e há uns anos foram descobertas várias contas bancárias em paraísos fiscais de dirigentes do MPLA. 4) Entre 1997 e 2021, desapareceram misteriosamente das contas do Estado, 1,7 mil milhões de dólares, por ano. 5) Enquanto isso o Povo é violentado, faltam bens de primeira necessidade, uma grande parte vive na miséria, as crianças passam fome e estão desnutridas, em cada quatro uma ainda morre antes dos cinco anos.

Perante uma tão dramática situação, a declaração de Jerónimo de Sousa é no mínimo patética. Primeiro, porque a corrupção está à vista e é conhecida de todos, segundo porque ninguém acredita que quem fomenta e beneficia da corrupção é que irá combater a corrupção.

Os gostos de Jerónimo e do PCP relativamente a certos regimes déspotas incomodam-me sobremaneira, apesar de não ser militante do PCP. Porque respeito muitos todos os homens e mulheres comunistas que lutam todos os dias contra as injustiças, por direitos sociais, pelas liberdades. Mas, peço desculpa, não é possível combater em Portugal as desigualdades, a exploração, as injustiças e defender ao mesmo tempo regimes onde esses direitos são quotidianamente violentados.

Depois da visita aos dirigentes chineses e angolanos e dos elogios a esses regimes, por onde segue o roteiro de Jerónimo de Sousa? Será pela Coreia do Norte?


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