Sangue ao vivo e a cores é que é preciso
Se todos dizem que a polícia fez bem em disparar, à queima-roupa, contra os sequestradores do BES porque não havia outra solução depois de oito horas de negociação -ou morriam os sequestrados ou os sequestradores, quem sou eu que não sou um especialista, para ir contra este senso comum?
A maioria dos portugueses aplaude estas mortes. Creio aliás que aprovariam os disparos de morte contra os assaltantes mesmo que não houvesse sequestros. Os portugueses sentem-se inseguros e atemorizados. As inflamadas notícias televisivas sobre a violência extravasam o razoável. Quase parece que Portugal é um país de malfeitores e que a violência está institucionalizada. Mas não é verdade! Não há nenhum dado oficial ou oficioso credível que aponte para o aumento da violência em Portugal. Ou melhor há mas é onde se menos fala: na violência familiar. E não é apenas uma violência psicológica, sexual ou levemente física. Não! É a violência física que mata: só este ano, segundo a UMAR, foram já 17 mulheres mortas às mãos dos maridos, dos companheiros ou dos filhos.
Mas nós regozijamos-nos contra as doutas sentenças sumárias de presumidos especialistas: “não havia solução. Ou eram uns ou outros. A polícia fez o que tinha de ser feito e no tempo certo”.
Noutros países estes processos de negociação costumam ser mais demorados, diria mesmo mais sérios e sem truques sujos, como atrair os sequestradores para um local fácil de serem atingidos, num acto de má-fé negocial: um assaltante de um banco não pode ser tratado como um assassino sem serem conhecidos os seus antecedentes criminais, as motivações psicológicas.
Não quero com isto dizer que a solução encontrada não foi a melhor. Não sei. Mas é seguro que não teve a eficácia pretendida ao contrário do que dizem. Ao não atingir de morte o assaltante ferido este num acto de desespero poderia ter desatar aos tiros e provocado os males que supostamente se queriam evitar. E ao fim e ao cabo sempre acabou por morrer uma pessoa. Sem direito a julgamento nas instâncias próprias.
O que não concordo é que sejamos acríticos, que aplaudamos a morte de pessoas sem mais, que desvalorizemos a condição humana, que se condene à morte as pessoas, em directo, enquanto nós assistimos refastelados no sofá, como se tivéssemos a ver um filme de cinema, escolhendo o lado dos bons e condenando à morte os maus sem julgamento e sem defesa.
12 de agosto de 2008 às 01:41
Não posso deixar de aproveitar este espaço para lastimar o desprezo que a perca de uma vida humana mereceu por parte do Ministro Socialista.
O Ministro, teve o descaramento de, após o lastimável desfecho que provocou um morto e um ferido grave, vir para a televisão regozijar-se com o “sucesso da operação”.
Sinceramente, sucesso era terem obtido a rendição dos assaltantes, ou no mínimo não ter acontecido a morte. Isso sim seria sucesso!
Não estou, com esta opinião a condenar a policia, nem sei se seria possível obter a rendição dos assaltantes, tampouco sei se seria possível evitar a morte, mas uma vez que aconteceu, repito por azar ou por qualquer outra razão, o mínimo que se exigia do Ministro de um governo Socialista era lastimar a perda de uma vida humana. Isso sim era de um Homem e de um Socialista… porem não temos um governo socialista pelo que está explicada a euforia do ministro pelo sucesso da operação.
Não poderia perder a oportunidade de saudar as palavras do responsável da policia que, em conferência de imprensa, questionado pelos jornalistas sobre a identidade do assaltante morto se limitou a dizer: «Era um homem como eu, como o senhor, como qualquer um de nós, que tinha família como todos nós…»
Pela sensibilidade e pelo bom senso que revelou, para o responsável da polícia vai toda a minha simpatia. Para o ministro não tenho palavras para classificar a postura. Lastimo que usurpe o nome SOCIALISTA.
José Carrilho
12 de agosto de 2008 às 12:42
José Carrilho: não ouvi as declarações do responsável policial mas como dizes só podem ser saudadas até em contra-ponto com os comentários de Moita Flores profundamente xenófobas. O ministro da Administração Interna Rui Pereira de socialista não terá nada. Um abraço.
12 de agosto de 2008 às 17:03
Ao que parece na sequência de outro assalto mais uma vida humana, desta vez um moço de 11 anos, se perdeu. Não posso deixar de lamentar a ligeireza com que tal acontece, a facilidade com que a GNR mata. É preciso galo, azar diria… disparar para as rodas e acertar nos ocupantes.
Lastimo e exijo que sejam aferidas as responsabilidades para de uma vez por todas acabar com este estado de coisas. É tempo de acabar com esta sucessão de mortes, é tempo de acabar com a GNR militarizada e criar uma força civil de intervenção que saiba lidar com o crime e com o tempo que vivemos, sobretudo que tenha respeito pela vida humana.
[Não estranhemos o ocorrido, ainda recentemente o ministro socialista considerou um acto de heroicidade da nossa policia o abate do assaltante do BES.]
Mal vai um país, pobre povo que valoriza os bens materiais mais que qualquer vida humana. Desgraçado povo que rejubila com a morte… de uma criança.
Lamento por outro lado que a morte, assassínio da criança, funcione como um álibi ou como uma espécie de detergente para branquear o roubo, ou a tentativa...
Evidentemente que uma coisa não justifica a outra, porem a faceta perdulária da nossa esquerda, quase sempre compreensiva e ou justificando o delito em nome de sei lá o quê, não pode continuar sob pena de sermos coniventes com este tipo de situação e dar-mos argumentos aos defensores da musculação do poder e dos seus agentes.
Tempos - na esquerda - que saber em todo o tempo condenar o que tem que ser condenado. Por isso condeno e exijo punição exemplar dos responsáveis pela morte como igualmente reclamo contra o branqueamento por omissão do assalto a vacaria ou lá o que quer que seja.
Incomoda-me o “profissionalismo” do advogado da família do menino assassinado. Ao que parece vai reclamar uma indemnização pela morte do menino. É de profissional, isto é, serve quem lhe paga.
Lastimo contudo que a família e o advogado em particular não tenham igual zelo e exijam idêntica indemnização ao pai da criança que, ao levá-la para o assalto, a expôs às balas da GNR.
Pode não ser politicamente correcto, mas é assim que eu penso.
José Carrilho
12 de agosto de 2008 às 20:30
eu não tenho como discordar de ti nem mesmo quando te referes à "justificação" que a esquerda sempre encontra para desculpabilizar certos crimes cometidos por algumas comunidades, especialmente a cigana. Mas atenção há um também um grande exagero na dimensão dos crimes na empolação que a CS deles faz e acrescentar ainda que ao contrário do que se pensa, -acabei de ler agora no Cinco dias essa informação baseado num estudo- que a maior criminalidade não está nos "estrangeiros" residentes em Portugal apesar de as penas serem mais pesadas para eles.
12 de agosto de 2008 às 21:07
Olha, José...eu juro que não te plegiei...mas juro que parece. E até estava para chamar ao post Um post politicamente incorrecto...ainda bem que me contive!
Concordo contigo. E li o estudo de que fala o Fernando. Mas até o estudo me parece dar razão às preocupações do Fernando. O que há que repetir até à exaustão é que não se faz mais crimes por se ser estrangeiro ou pertencer a determinada comunidade...até porque não são os estrangeiros ou os membros de determinadas comunidades que fazem mais crimes. E para isso não é necessário justificar ou desculpabilizar os crimes que os estrangeiros ou os membros dessas comunidades fazem...o que se tem é que exigir uma justiça igual para todos. E condições iguais para todos de acesso à justiça.
Hei-de sempre repetir que não aceito a noção do coitadinho. Acho-a reacconária e profundamente racista, mesmo quando tem roupagem de Esquerda.
13 de agosto de 2008 às 01:14
Não tenho duvidas de que há um exagero na dimensão dos crimes, sobretudo quando atribuídos ou da responsabilidade de minorias e de estrangeiros.
É exagerado evidentemente! As estatísticas são claras nesse aspecto, os crimes são sobretudo praticados por nacionais. Mas, praticados por nacionais ou não, crime é sempre crime e não tem nacionalidade, raça ou credo.
Não! Não vou por aí!
Evidentemente que essa historia do coitadinho já não pega, contudo nestas coisas é bom ter presente que, como dizia o poeta «do rio que tudo arrasta, dizem violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.»
No fundo é tudo uma questão de bom senso e de não “emprenhar” pelos ouvidos.
… e de solidariedade, e de justa e equilibrada distribuição da riqueza, e de humanismo, e de compreensão, e…
[Desculpem repetir-me… mas essa do advogado insistir na indemnização à família da criança, como se a família, o pai em particular, fosse inocente no meio de tudo isto, não encaixa na minha lógica… Ainda se a indemnização reverte-se a favor de uma qualquer instituição de apoio a crianças, enfim… entendia-se. Neste contexto é imoral e injustificado. Como injustificados foram os tiros da GNR.]
José Carrilho
13 de agosto de 2008 às 12:14
eu por acaso alinho na história do "coitadinho", caro amigo e amiga, sem achar que não são nenhuns coitados, no sentido pior do termo. Talvez não tenha sido suficientemente claro na minha posição ...mas talvez os meus dois últimos posts clarifique melhor o que penso disto. Eu que às vezes me sinto à "direita" de alguma esquerda, nestas coisas sinto-me mais à esquerda, digo eu.