O professor de Sócrates na Independente acusado de corrupção  

Em 1996 era professor na Universidade Independente de José Sócrates em quatro das cinco disciplinas que faltavam ao nosso Primeiro-ministro, para concluir a licenciatura. Era também assessor do secretário de Estado Armando Vara. Há dois dias foi pronunciado pelos crimes de corrupção passiva e branqueamento de capitais, por actos praticados naquele mesmo ano.

Se sobre a licenciatura de Sócrates apesar de envolta num manto nebuloso de suspeições, não foi possível (ainda?) determinar se houve favorecimentos, esta acusação que impende sobre o professor que lhe concedeu o diploma de engenheiro, vem uma vez mais, evidenciar a promiscuidade entre o exercício do poder e a actividade empresarial própria ou incumbida, numa relação de benefícios mútuos e múltiplos que permitem influenciar as decisões políticas, quando não mesmo, como é o caso, violando as normas legais aplicáveis.

António Morais o homem de quem se fala, na qualidade de sócio com a sua ex-mulher de uma empresa de consultoria e em representação da Associação de Municípios da Cova da Beira, é acusado de ter beneficiado um consórcio de empresas, no concurso público para adjudicação e exploração de um aterro sanitário, que apesar de não apresentar a melhor proposta, nem sequer ter o currículo necessário para ir a concurso, saiu vencedora. Como contrapartida, António Morais, recebeu pelo menos 58 154 euros, depositados numa conta nas ilhas de Guernesey.

Mas este caso tem outros contornos ainda por esclarecer e perceber as relações: a fiscalização das obras do aterro foi ganha em 1997 por uma empresa cujos proprietários são o actual Presidente socialista da Câmara da Guarda, o Vereador do Ambiente que nessa qualidade integra a Associação de Municípios da Cova da Beira (e que fiscaliza a obra), mais um outro sócio que sendo sócio noutra empresa, acabou por comprar a empresa que ganhou o concurso de fiscalização, mal as denúncias de corrupção começaram a aparecer (e que por acaso é amigo particular e sócio noutra empresa do responsável do consórcio de empresas que ganhou irregularmente o concurso do aterro sanitário); empresa esta à qual o gabinete de instalações do Ministério da Administração Interna, dirigido na altura por António Morais -o professor de Sócrates na Universidade Independente que lhe deu o diploma de Engenheiro, se fartou de adjudicar contratos de fiscalização de obras.

Complicado de perceber não? Pois... não é fácil de explicar e perceber. Mas perguntam-me vocês o que é que isto tem a ver com Sócrates? Nada claro a não ser que todos, António Morais, o Presidente da Câmara, o Vereador do Ambiente, mais o Sócio que comprou a empresa dos três, e também o Sócio deste último noutra sociedade, são todos amigos de Sócrates. Mas claro que isso não tem nada a ver. Não tem de ter necessariamente que ver. Eu até acredito em coincidências e estou a falar a sério. Mas para a notícia ficar completa isto tinha de ser dito.

(artigo feito com base na Notícia do Público de hoje)


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