"Não foi por vontade nem por gosto que deixei a minha terra!"
Um estudo da OCDE sobre migrações revela que metade da população portuguesa está emigrada. Sublinho: metade da população. Cinco milhões de portugueses escolheram o estrangeiro para viver ou trabalhar. Mais significativo ainda. Nos últimos seis anos a emigração portuguesa para a Europa cresceu em 52,6 por cento e para a Espanha ou o Reino Unido mais que triplicou. Os Estados Unidos, com 1,3 milhões, a França (o Brasil do operário nos anos sessenta) com 800 mil e o Brasil com 700 mil portugueses continuam a ser os países que mais absorvem portuguesas na sua Diáspora por melhores condições e uma vida decente.
Para quem, entre nós, contesta com veemência a presença de imigrantes em Portugal, talvez este seja o momento certo de lhes fazer a pergunta: que tal, à luz dos seus argumentos, fazer regressar a Portugal os 5 milhões de portugueses e devolver os pouco mais de 400 mil imigrantes que se encontram no nosso país. O que dizem?
A emigração é a afirmação de coragem, de ousadia e de liberdade. Ser emigrante é ser revolucionário. Ser emigrante é recusar um “destino” mal traçado. Num mundo globalizado a circulação e fixação das pessoas onde quiserem, é um direito e uma valia social económica e cultural, para os países de acolhimento.
Em Portugal (e noutros países da Europa, infelizmente) começam a vingar as teses nacionalistas e xenófobas, de que a imigração é a responsável pelo desemprego, pelo acréscimo de violência, pela quebra de valores, mas são argumentos mentirosos, estapafúrdios e intolerantes que apenas escondem a incompetência (e egoísmo) dos líderes políticos, dos governantes e da economia empresarial, em dar resposta aos novos tempos de globalização, assente em pressupostos de justiça, igualdade e dignidade humana.
A globalização de que tanto se fala e de que sou um incondicional adepto é a globalização da justiça social, dos direitos humanos, do combate às desigualdades, das oportunidades para todos; a aldeia global da paz, das liberdades, da dignidade humana.