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A PT há muitos anos que encetou uma estratégia de redução dos seus efectivos, num processo, de renovação, rejuvenescimento e aumento da qualificação profissional, com o intuito, segundo a Empresa, de responder aos desafios da concorrência e da competitividade, num mercado liberalizado e agressivo.

Esta estratégia tem tido o apoio dos sucessivos governos, numa primeira fase, com força de decreto-lei, foi concedido o direito à aposentação aos beneficiários da Caixa Geral de Aposentações, com 50 anos de idade e 30 anos de desconto e a pré-aposentação aos beneficiários da Segurança Social com pelo menos, salvo erro, de 55 anos de idade e 25 anos de desconto, sendo que a Empresa, cobriria financeiramente os encargos com essas duas instituições, decorrentes do tempo em falta para se atingir a idade legal da reforma.

Numa segunda fase que ainda continua, a PT tem vindo a apresentar sucessivos pacotes de saída, visando a rescisão ou a suspensão do contrato de trabalho, a todos os trabalhadores, indistintamente, com pelo menos 50 anos de idade e 20 anos de descontos, num movimento que, nos últimos anos, conduziu à saída de largos milhares de trabalhadores.

Este processo, embora não obrigando ninguém à saída e não obstante, também, ter ainda condições que se podem consideradas atractivas, mas sempre piores que as anteriores, transporta uma carga psicológica enorme para quem é obrigado a tomar uma decisão e simultaneamente, como consequência, tem-se traduzido, num aumento exponencial da carga de trabalho e de uma grande pressão sobre os resultados que recaem nos trabalhadores que ficam. Ainda por cima, os que ficam, estão obrigados a suportar, as constantes alterações da estrutura e a lidar com as novas chefias, quase sempre impreparadas, para não dizer incompetentes, colocadas à pressão em lugares de responsabilidade, para os quais não têm nem experiência nem capacidade de liderança e muito menos um relacionamento pessoal adequado.

A criação de um call-center, supostamente, para criar 1200 empregos, não deixa assim de ser surpreendente, sabendo-se que a PT mantém sem funções e em casa, a pagar-lhes o vencimento por inteiro (com excepção do subsídio de alimentação), embora com uma subtracção de cerca de 10% após os 55 anos até à reforma, largas centenas de trabalhadores/trabalhadoras, com suspensão de contrato, pessoas experimentadas e de competência demonstradas, precisamente em funções idênticas às que vão desempenhar os novos postos de trabalho. Para todos os efeitos, ficará ainda a dúvida, que só o tempo esclarecerá, se a criação deste novo empreendimento não vai acarretar o fecho de outros call-center da Empresa noutras localidades, com consequente "deslocamento" ou o fim do emprego para essa gente.

Neste quadro é fácil de perceber que o que a PT pretende, com o encobrimento do Governo, é substituir trabalhadores efectivos, com horários de trabalho e com direitos sociais e laborais, por outros, com trabalho precário, sem direitos, com baixos salários, contratados através de empresas prestadoras de serviços, cujo lema assenta, precisamente, numa lógica de precariedade e de ausência de direitos.

O anúncio do Governo de Sócrates de criação de 1200 postos de trabalho, não deixa assim de assentar numa falácia e de um colaboracionismo com um modelo de trabalho, baseado na exploração desenfreada, capciosamente embrulhado, através de uma poderosa máquina de propaganda, em trabalho efectivo e qualificado, quando aquilo que vai ser é um emprego precário e sem direitos.

Uma nota final: a afirmação de Louçã que a PT despediu trabalhadores ao longo destes anos assenta num equívoco. Os três mil e tal trabalhadores de que fala, não foram despedimentos mas rescisões ou suspensões de contrato de trabalho por mútuo acordo.


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