Na hora que havia de vir
Os lábios se uniram num beijo de gratidão recíproco e selaram o encantamento que ambos sentiam. Deixaram-se cair para o lado, com os seus corpos nus enlaçados, num abraço forte que teimava em não se desunir. Ficaram assim uns tempos. Um tempo que não existia. Não havia horas. Só as horas seguintes. Havia um só corpo, um só coração, em dois corpos fundidos.
A respiração sufocante, a palpitação descompassada, iam abrandando, tomando o seu ritmo normal. Estavam no deleite dos virtuosos a comprazer-se com a ocasião ímpar.
Amor, paixão, desejos tudo ali estava presente a querer continuação. Na hora que haveria de vir. As roupas no chão, a cama desfeita, os lençóis embrulhados, os corpos húmidos de transpiração, deixavam adivinhar o que ali se tinha passado. Não durou muito e adormeceram nos braços um do outro, muito agarradinhos.
Não sei quanto tempo se passou. Pareciam ter sido horas. Ali não havia relógios. Irá ficar para sempre a dúvida. Os olhos resplandecentes dela abriram-se, sacudiu os cabelos com as mãos e aplicou-lhe um beijo suave e terno nos seus olhos semicerrados que se tinham recusado a fechar ao inesquecível acontecimento. Ele despertou sobressaltado. Num ápice passou-lhe pela cabeça que teria estado a sonhar. Mas não, o sorriso radioso da amada, não enganava. Delicadamente retribui-lhe com um beijo na boca. Estavam ambos acordados.
Abraçaram-se de novo. Não falaram, não era preciso. Pela cabeça de cada um deles o filme era mil e uma vez rebobinado. Suas bocas se uniram uma vez mais. As línguas se tocaram outra vez. Estavam insaciáveis. Ela gostava muito de o beijar e ao mesmo tempo mergulhava o seu olhar penetrante, nos dele, tentando perceber as suas motivações próximas. Não precisou de muito tempo.
Seus corpos se entregaram um ao outro, de novo. De repente sem darem por isso estavam no chão embrulhados e balanceados em movimentos puros de sedução e atracção que o deslumbrava. Ele pegou nela e sentou-a no seu colo, frente a frente, as costas dele coladas à parede fria, mas isso não importava. Na sua frente estava a mulher que queria possuir.
(publicado originalmente no Foice dos Dedos)
8 de agosto de 2008 às 04:54
Fernando, que talento !
Vim te ler como sempre, antes de ir trabalhar e hoje ia caindo para traz...
Simplesmente divino !!!!!
Um beijo grande