Prescrição para males de amor
Um dia a poeta fechou o melhor espaço de poesia de autor. Quero dizer: não a de poesia que outros publicam de outros ou outras poetas, mas a poesia de quem faz o poema. Todos os dias, em mais de dois anos creio, o Erotismo na Cidade era o meu e também o de milhares de leitores, um porto de atracagem obrigatório. Todos os dias a Encandescente tinha algo para nos dizer, tinha o poema à mão, acabado de fazer, sobre a actualidade política ou social, ou um outro que lhe suscitasse perplexidade, inquietação ou tão-só para despejar amor. Eu ficava fascinado com a qualidade do poema, com a intensidade das palavras, a profundez da mensagem.
Depois de pelos meus provectos sítios terem transcorrido poemas dos meus amigos, Álvaro de Oliveira (extraordinário poeta e romancista, com mais de uma dúzia de livros publicados- que me deu a extrema honra de apresentar a Balada de Orvalho, na XXVI Expo-Feira do Livro –X da Lusofonia de Viana do Castelo) da Adelaide Graça, querida amiga de sempre, poeta e contadora de histórias de amor, de afectos, e paixões sem par) e o saudoso Alfredo Reguengo, lutador anti-fascista e militante comunista, através dos seus poemas da Resistência, por o Sentido Único, vão passar os poemas da Encandescente, para memória futura, dos dois livros que lhe adquiri e que fez o favor de autografar.
Um por cada dia irei publicando um poema da Encandescente. Começo precisamente por um deles que correu pela Internet e que foi foi lido aos microfones da Antena 1 pela primeira vez pelo Prof. Júlio Machado Vaz que lamentou não conhecer a autora. Mais tarde, a Encandescente prestou o seguinte esclarecimento: O poema foi escrito no dia 15 de Março às 18,29 precisamente na hora exacto em que foi publicado porque todos os seus poemas eram escritos online. Lamentou que alguém usasse o nome ,sem pedir citar a fonte, dado os mesmos estarem protegidos pelos direitos de autor e registados na Sociedade Portuguesa de Autores.
Aí vai portanto o primeiro.
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;"
Ah Camões
Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
E Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas a página do Murcon
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.
In Encandescente, pág. 5, edições Polvo, 2005