A cara de sonso de Sócrates não nos deve levar ao engano  

A entrevista de Sócrates à RTP não trouxe novidades de maior.

Sócrates face às dificuldades económicos e sociais que se vão agravando, encena a auto-comiseração, o papel de vitima, insinua quase uma ingratidão dos portugueses, desculpa-se com a conjuntura internacional, descarta responsabilidades próprias, culpa os outros, os que governaram antes, os que nunca governaram, os que apresentam propostas, os que não apresentam, tudo serve para justificar o falhanço das suas políticas que trouxeram mais desigualdades, mais desemprego, mais injustiça social, mais perda de direitos, menos qualidade de vida e de protecção social, para um grande sector da sociedade portuguesa.

Claro que Sócrates estava "obrigado" a apresentar qualquer coisa, uma novidade, uma proposta, uma medida, o país não estava a aguentar a ausência de uma resposta face à crise dos combustíveis e ao agravamento da situação económica das famílias. Foram apresentadas três. São bem-vindas. Qualquer medida que ajude as famílias em dificuldade só podem ser bem-vindas. Apenas se lamenta que não tenha sido tomada antes.

A dedução de IRS nas despesas com habitação para as famílias com menor rendimento são de aplaudir. A descida do limite superior do IMI é positiva. Os municípios salvo raras excepções aplicam o limite máxima da taxa, como mera medida contabilística para arrecadar receitas à custa dos contribuintes, em vez de fazer aplicações diferenciadas das taxas e exercer com competência uma verdadeira gestão urbanística. Já sobre a aplicação da famosa taxa Robin dos Bosques (que a oposição de esquerda de alguma forma já tinha sugerido e que mereceu os maiores impropérios do Primeiro-ministro - que isso era irresponsável, demagógico, que nunca iria intervir no mercado, etc, etc.) diz que está a fazer estudos, blá, blá, blá, bla, não sei se sai da fase de estudos.

O que verdadeiramente impressiona em Sócrates, é o autismo, a arrogância, a presunção, é que um dia recuse com veemência e mesmo má criação, propostas séria e responsáveis e nalguns casos, posteriormente, seja "obrigado" a tomar algumas das medidas propostas, fazendo-o como se nada se tivesse passado.

Na verdade o que se critica em Sócrates não é a ausência de medidas. O que se critica são as escolhas de Sócrates. As escolhas que criaram desequilíbrios económicos e sociais graves na classe média e nos mais desfavorecidos. O que se critica é que a repartição de sacrifícios não existiu ou quando muito pendeu sempre para o lado dos que menos podem. Mas são escolhas. E sobre essas escolhas os eleitores socialistas do PS devem pensar muito bem se foi para isto que votaram no PS.

A conjuntura económica internacional de agora é apenas uma parte do problema. O que fica deste consulado é um país ainda mais pobre, ainda mais desigual, com um ainda maior desemprego e acima de tudo sem esperança. O resto são desculpas de mau pagador.


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