Ainda os acontecimentos em Loures.  

É um bocado isto:

sobre os acontecimentos de Loures há quem se indigne com os moradores ciganos e africanos dos bairros, pelas rendas de 3 e 4 euros, parecendo esquecer que os valores fixados são da inteira responsabilidade dos municípios;

por não serem pagas as rendas ou pela degradação dos bairros, quando é sabido que a responsabilidade pela gestão dos bairros é dos seus proprietários, para o que bastaria apenas exercer a sua autoridade legal e não deixar abandalhar o património público;

por não ser paga a água, a electricidade, sei lá mais o quê, sem questionarem que compete às empresas fornecedoras assumir como deve ser o corte do fornecimento;

por receberem o rendimento mínimo e outros benefícios sociais atribuídos pelo Estado, quando presume-se que os recebem de acordo com as leis ou não se percebe outro modo.

- lê-se tudo isto com alguma candura e ninguém ousa pedir responsabilidades a quem é devido em primeiro lugar: aos responsáveis políticos e às empresas que fornecem os serviços que denotam incompetência, desleixo e abandono das suas responsabilidades políticas, sociais e empresariais.

Tivesse havido um tratamento competente e interessado e isto não seria notícia, agora: antes de mais, portanto, a responsabilidade deve ser pedida a quem tem por dever, zelar com competência, o condomínio dos bairros; a quem caberia fazer cumprir responsabilidades assumidas, em tempo útil, em vez de despejar autenticamente aquelas pessoas, sem cuidar de gerir o bairro. Se compreendo que se critique a actuação das pessoas que actuam à margem de regras mínimas de convivência em sociedade, não consigo perceber que os dirigentes responsáveis pela gestão dos bairros e pela forma como são concebidos, saiam incólumes desta trapalhada toda.

Também aqui me parece haver dois posicionamentos políticos claros: à esquerda procura-se resolver o problema da pobreza associado a estes conflitos, à direita procura-se tirar dividendos políticos demagógicos, com base em pressupostos de injustiça relativa.

Enquanto na área da esquerda se procuram explicações para identificar e resolver os problemas da pobreza não deixando de destacar a incompetência dos líderes em todo este tempo, incapazes de encontrar soluções equilibradas, já na área centro/direita, por seu lado, pretende-se atirar pobres contra pobres e desresponsabilizar os líderes políticos, cujas soluções são, tão-só, empurrar os pobres para guetos, sem mais, deixando-os à sua sorte.

E isto que precisa de ser discutido: como resolver o problema da pobreza e gerir os fenómenos culturais de cada comunidade. Pela via da integração ou multicultaralidade ou um sistema misto equilibrado?


2 comentários

Enviar um comentário