Morreu o Xico Martins!
Com a sua morte desaparece uma das figuras mais proeminentes do comunismo nacional e internacional.
Nos princípios da década de sessenta, depois de anos largos de militância e membro do Comité Central com Álvaro Cunhal, rompeu com o Partido Comunista Português em divergência com o partido de que era membro desde 1954, criticando o “revisionismo” aos princípios fundadores da ideologia comunista e contra o alinhamento acrítico com a União Soviética onde já descortinava desvios. Pouco tempo depois fundou o comité marxista-leninista português (CMLP) a primeira das muitas organizações que se reclamavam de marxistas-leninistas, entra as quais o CCRML, a ORPCML, a OCMLP (de que fui militante) etc.. e que mais tarde, já depois do 25 de Abril, se juntaram para dar lugar à UDP e depois ainda com outras organizações o Bloco de Esquerda (de quem era um critico).
O Francisco Martins Rodrigues não era apenas um revolucionário, um anti-fascista, um comunista puro, um combatente, um idealista, um pensador marxista. Um homem que fez doutrina política. O Xico Martins, como era conhecido no meio, era o soldado, mas também o general, que se ouvia com atenção, respeito, fascinação.
Podemos discordar, e pessoalmente discordo, das suas teses políticas inabaláveis, que considero desajustadas no tempo, mas sempre nutri um profundo respeito, pelo lutador anti-fascista (preso e torturado inúmeras vezes e que esteve na célebre fuga do Forte de Peniche com Álvaro Cunhal), pelo revolucionário, pelo comunista [curiosamente (ou não) apesar das suas responsabilidades políticas quase desapareceu da história do PCP e mais grave ainda quando estava exilado uma denúncia do Avante dava conta do seu regresso a Portugal uma pista que podia ter tido consequências graves] coerente (o que não quer dizer consequente), idealista e um profundo homem de convicções. Fica a minha homenagem!
23 de abril de 2008 às 00:43
Ao teu comentário com o qual estou no essencial de acordo falta talvez se justifique acrescentar, porque o facto é um marco histórico, que o Xico Martins, juntamente com Rui D'Espiney e João Pulido Valente foram os últimos presos políticos a ser libertados com o 25 de Abril. Estavam acusados de terem assassinado um PIDE (por sinal um agente infiltrado). [O PIDE foi mesmo (bem) morto, não me cabe contudo esclarecer por quem.]
Chico Martins, cuja última ligação politica era à “politica Operária” tinha um grave problema que o diminuía nos meios da resistência e até da chamada extrema-esquerda, ele não terá aguentado a tortura na prisão e terá falado. [Falou sob tortura evidentemente] Esse era um fardo que ele carregou para o resto da sua vida, que o diminuía, que o limitava…
Acho que neste capítulo a melhor homenagem que se poderia prestar era debater a temática do “falar ou não falar” sob tortura.
Adianto desde já que o "catecismo" onde aprendi politica dizia que um revolucionário não fala em circunstância alguma na prisão.
Hoje não tenho essa verdade como uma certeza... "do que um homem é capaz" não é coisa que se estipule e decrete em tratados políticos... [A minha opinião sobre a matéria fica para o debate... se houver]
Neste momento quero apenas inclinar-me sob a memória de Francisco Martins Rodrigues o maior pensador comunista vivo (até ontem) da Europa.
José Carrilho
23 de abril de 2008 às 11:49
Carrilho quem matou o agente infiltrado também não me interessa mas esse tipo de pessoas não me merecem compaixão nenhuma. Não sabia (não me lembro) que o Xico tivesse falado sob tortura (da muita tortura a que foi sujeito, porque foi muitas vezes preso - não tenho ideia de quanto tempo no total) mas isso não o diminui em nada aos meus olhos e não sou capaz de o julgar.
A propósito de falar na prisão sob tortura lembro-me de um congresso da OCMLP no Porto (em Aldoar salvo erro -fomos para o local de olhos vendados)recordo-me de um forte ataque do então secretário-geral o Pedro Baptista (esse mesmo o que foi candidato, há uns anos atrás, do PS à câmara de Gondomar (e julgo que também foi deputado)-nunca mais ouvi falar dele)a fazer um ataque cerrado ao Helder Costa (creio que foi a ele, embora a minha memória esteja fraca) homem da cultura e do teatro e encenador do grupo a Barraca que me enojou, apesar de ser verdade, mas que ele "justificou" por uma grande fragilidade psicológica e e mocional, perante um quadro de tortura violenta, mas ainda assim, sem ferir os alicerces da organização e preservando nomes. Hoje o Pedro Baptista não sei por onde anda mas o Helder Costa continua o seu caminho e a sua luta de sempre. Com o Xico ter-se-á passado o mesmo. Mesmo não subscrevendo as suas posições políticas sempre soube qual era o seu lado.
23 de abril de 2008 às 13:31
Como é evidente o meu comentário sobre o ter ou não falado na prisão está longe de diminuir o papel do homem, do politico e do militante de causas que foi Francisco Martins Rodrigues.
[Creio que ele nunca teve, na altura do PREC, um papel de lider nos diversos grupos e partidos ML, precisamente por causa disso.]
Referi o assunto apenas por entender que é matéria que deve ser abordada sobre outro prisma, que não o do "catecismo" inicial.
Tenho o mesmo respeito pelo seu papel na luta pela liberdade [agora respeito pela memória do Xico] que teria se ele eventualmente tivesse resistido à tortura. Eu, que nunca passei por uma provação como aquela, não sei como me comportaria, por isso, ou também por essa duvida, respeito e inclino-me perante os que resistiram e de igual modo respeito os que por esta ou aquela razão cederam... Ceder não é nem nunca foi TRAIR.
Xico Martins está, no que confere à resistencia ao fascismo, acima de qualquer suspeita. FRANCISCO MARTINS RODRIGUES FOI UM COMBATENTE E UMA REFERENCIA INSUBSTITUIVEL DA LUTA CONTRA A DITADURA COMO TAMBÉM NA AFIRMAÇÃO DE UMA ESQUERDA A QUE ME ORGULHO DE PERTENCER.
José Carrilho