Um exército de mãos e inteligência desperdiçado precocemente  

Depois de tantos anos distraídos, os governantes “descobriram” em 2002 que estava em perigo a sustentabilidade do sistema de Segurança Social, se nada fosse feito. Aqui chegados, começaram por onde costumam começar; indo ao bolso dos trabalhadores, retirando direitos (regalias/privilégios -fica à escolha dos leitores) dos trabalhadores, mexendo em particular com o regime de aposentação dos subscritores da Caixa Geral de Aposentações. Depois, bem depois logo se veria …como se viu.

O Governo do PSD/CDS abriu, timidamente, as hostilidades e indexou o tempo de serviço (36 anos) à idade (60 anos). E foi tudo. Com o Governo Sócrates, três anos depois, não foi melhor. Insistiu no mesmo caminho: aumentou ainda mais a idade da reforma, com os limites a crescer ao ritmo de seis meses por cada ano, para chegar aos 65 anos de idade e 40 anos de serviço, em 2015 e alterou a fórmula de cálculo da aposentação, de que resultou um abaixamento das pensões superiores aos 10 por cento.

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    Com tudo isto a partir de 2015, nem valerá a pena fazer muitas contas; o novo aposentado vai receber cerca de 40 por cento a menos, da remuneração mensal do activo, por efeito da nova fórmula de cálculo, em que todos os anos da carreira contributiva contam. Depois disso, se quiser sair os 65 anos de idade, vai ter de descontar mais, a chamada taxa de sustentabilidade ou então obriga-se a sair mais tarde, com a regra da indexação da aposentação à esperança média de vida.

    Mas no fundamental para garantir a sustentabilidade do sistema, nada de relevante. Em particular no que toca a mexer nos pilares do sistema. A forma de financiamento e rentabilidade.

    Para piorar a situação, enquanto o Estado aumenta a idade da reforma e baixa as pensões, as maiores empresas, apesar de afirmarem o apoio às medidas do governo, sem nenhuma vergonha, estão a “negociar” a dispensa dos trabalhadores com mais de 50 anos de idade. E dos desempregados nem vale a pena falar.

    Paradoxalmente ou não, a seguir a dois agravamentos da idade da aposentação, (que obstaram à aposentação de milhares de funcionários públicos -na altura própria e com os valores de pensão esperados) o Governo quer agora “despachar” milhares de funcionários para a reforma, esquecendo tudo o que disse, para sustentar as anteriores decisões nesta matéria.

    Como é de esperar vamos assistir a mais uma corrida às aposentações, porque sim. Percebe-se. Estamos todos cansados das patranhas e das incompetências dos nossos “líderes”. São mais uns milhares a engrossar o grande exército de desempregados e “aposentados precoces”, um exército de tantas mãos, tanta experiência e inteligência desperdiçados, neste país da treta.


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