A entrevista de Louça e as patetices de alguns bloquistas  

A entrevista de Francisco Louçã à TSF/Diário de Noticias, revela-nos um político invulgar. À pergunta armadilhada de “quanto ganha”, ou de qual é o seu “ordenado de professor universitário”, Louçã desarma os jornalistas afirmando que recebe apenas o vencimento de deputado e que trabalha gratuitamente para a Universidade, como professor e investigador em economia.

Francisco Louçã mantém-se fiel aos seus princípios: “o meu compromisso é com a luta socialista, a minha divida é com as desigualdades sociais”. Pelo caminho as criticas concretas: os cinco administradores do BCP que falsearam as contas durante sete anos e saíram com 80 milhões de euros indemnizações; as contas do CDS que aparecem com um milhão de euros depositado pelo BES; os 24 milhões de euros numa conta do BES na Inglaterra que estão a ser investigados aquando da compra dos submarinos; as avenças de deputados por prestação de serviços que deviam ser incompatíveis, como o de Guilherme Silva ao Governo regional da Madeira.

Depois os grandes princípios ideológicos: um caminho de unidade capaz de transportar para os movimentos sociais uma força de protesto, de resistência e de acção, não partidarizados, para contrariar as políticas liberais e construir uma alternativa de poder de esquerda; a liberdade de opinião e o pluralismo contra a disciplina unicitária; a defesa intransigente das liberdades de imprensa e de manifestação pública; o combate às visões doutrinárias de partido único, de movimentos tutelados por um partido, a não aceitação de limitações ao exercício das liberdades, ou de proibição do direito de greves, da liberdade de imprensa ou "aceitar" a exploração capitalista como o faz o PCP a pretexto de no poder estar um partido comunista. “A esquerda portuguesas tem de fazer explodir preconceitos, estamos derrotados se vivermos do passado”.

Pelo meio a criticas ao Governo sobre um “economicismo mesquinho” no Serviço Nacional de Saúde (que deve ser sempre gratuito e universal para todos), na Educação, (onde reconhece que a Ministra tomou uma ou outra boa decisão mas sem dar condições e atropelando os professores como se fosse “um camião TIR”) nas políticas económicas e de emprego. “É um destino trágico que um governo socialista seja o mais liberal de todos”.

Concomitantemente apresentou propostas concretas alternativas e não resistiu a uma provocação que resultou numa resposta extemporânea: a de que não fará coligações municipais autárquicas em 2009. E sobre esta questão já algumas vozes internas se atiraram a Sá Fernandes, por este, legitimamente, achar inoportuno, tomar uma posição a tão longa distância no que diz respeito a Lisboa.

E se a entrevista de Louçã me aproxima do Bloco, já as reacções “extremas” de alguns bloquistas às opiniões de Sá Fernandes, afastam-me completamente. É que já não tenho paciência para certas palermices.


14 comentários

  • Isabel Faria  
    3 de março de 2008 às 23:07

    Estás enganado numa questão fundamental, Fernando. A afirmação de que o BE não fará coligações com o PS não é "uma provocação que resultou numa resposta extemporânea",que Louçã não terá resistido a fazer, é uma opção política aprovada pela Mesa Nacional, já anteriormente divulgada publicamente pela mesma Mesa Nacional e resultante de uma proposta apresentada pela Comissão Política.(Para tua informação, os "patetas", no Encontro Autárquico do BE até apresentaram uma proposta alternativa que poderia abrir a porta a Coligações de Esquerda, em determinados lugares, sob determinadas condições, desde que baseadas num programa claro e inequivoco...proposta que a Direcção do BE não subscreveu, apresentando o tal NÂO claro a qualquer tipo de coligação pré-eleitoral).

    Talvez faça um bocadinho de diferença...digo eu.
    Não que o adjectivo me incomode por aí além...estou bem mais preocupada com a credibiliddade que o BE possa perder com tudo isto, mas enfim...

  • Isabel Faria  
    3 de março de 2008 às 23:10

    Sorry...não são patetices...são palermices que tu lhes chamas. Deixa lá...não me zango à mesma.

  • Isabel Faria  
    3 de março de 2008 às 23:28

    Não me chames chata...vim só deixar o link que há pouco não encontrei (que não é link, porque não sei fazer links):
    http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF183426.

  • Fernando  
    4 de março de 2008 às 12:32

    Isabel: O Louçã deu uma boa entrevista mas não vi isso ressaltado por Vós. Em minha opinião teve esse “percalço” relativamente às coligações autárquicas. Deveria ter respondido que era extemporâneo estar a falar sobre isso a tão longa distância e que dependeria da análise da situação concreta, na linha do que disse Sá Fernandes. Ou então melhor ainda ir pelo caminho que sugere o Daniel Oliveira no Arrastão e que eu subscrevo. Acho que naquele momento ele percebeu que aquela pergunta era uma "provocação" por causa da "coligação" em Lisboa e não teve a maleabilidade táctica para ir por outros caminhos. Acontece aos melhores. O Vosso ataque a Sá Fernandes é ridículo e inadmissível. Repara "não podemos calar o nosso repúdio" ; "Não lhe damos, e achamos que o Bloco não lhe pode dar, o direito de, publicamente, se PRONUNCIAR contra directivas..." ; "não podemos mesmo permitir é que Sá Fernandes esteja na CML a fazer oposição ao Bloco de Esquerda" ; defendemos que o BE ... equacione a retirada da confiança política a José Sá Fernandes e a revogação do "acordo de Lisboa".

    Patético, no mínimo Isabel, desculpa lá.

  • Isabel Faria  
    4 de março de 2008 às 21:53

    Fernando, continuas a fazer todo o teu raciocínio baseado num erro e teimas nele: FL não cometeu um percalço, com ou sem aspas, FL reiterou a posição do BE já anteriormente tornada pública. Não podia dizer que era extemporâneo porque é um decisão tomada em Seetembro.

    O resto, desculpa, mas não me dá jeito discutir política com tantos adjactivos: ridículo e inadmissível,palerma, pateta e patético no mínimo, é demais para mim.

    Só uma nota final, lamento verdadeiramente que chames à opção de claramente assumir uma resolução tomada pelos orgãos democraticamente eleitos do Bloco,de
    " não ter a maleabilidade táctica para ir por outros caminhos", isto é não optar por mentir ou disfarçar ou assobiar para o lado...
    Mas ok, tu achas que FL caiu numa armadilha...nada a fazer.

  • Fernando  
    4 de março de 2008 às 22:32

    Isabel
    Não tomes o que digo como ataques pessoais e muito menos a ti. São classificações políticas que faço sobre as V. posições sobre o Sá Fernandes. Podes não gostar mas olha que acho que estou a ser meigo perante a afronta e a desconsideração que é feita a quem tem trabalhado com honestidade e respeito para com o Bloco, apesar de não ser militante. De facto não consigo encontrar melhores palavras para quem se dirige a Sá Fernandes com palavras como "repudio"; não lhe damos o "direito" ; não podemos "permitir"; está a fazer "oposição" ao Bloco; etc..

    Sá Fernandes está a cumprir o programa com que se apresentou ás eleições, está a respeitar os compromissos com os eleitores e as forças que o apoiaram, está a desenvolver um trabalho interessante e tentar resolver os problemas dos precários ... mas não é do Bloco e não tem que estar sintonizado em todas as posições com o Bloco, já todos sabiam isso. Eu ouvi e li bem as posições de Sá Fernandes sobre a afirmação de Louçã e disse o óbvio não percebo tanto alarido.

    Sobre o Louçã: o facto da Mesa Nacional ter uma posição de principio sobre as autárquicas (coligações ou não) etc... não significa que perante uma pergunta que pretendia embaraçar o Bloco(como pelos vistos embaraçou)o Louçã não pudesse contornar o problema, como já o fez em outras ocasiões e isso não é mentir ou enganar ninguém... a decisão da Mesa Nacional é declaração de princípios mas não significa que na altura própria não vá analisar as situações concretas. Não me parece que seja difícil de perceber. De resto, Isabel há muitas criticas a fazer à direcção do bloco que subscreveria e que algumas vou dando conta aqui mas esse ataque ao Sá Fernandes revela tanta falta de tacto político, e um fechamento grupista que me assusta.

  • Anónimo  
    5 de março de 2008 às 15:18

    O Fernando acha natural e até apoia a posição do Daniel Oliveira que contraria a do Louçã. Mas patetas são aqueles que se pronunciam a favor do que disse o Louçã e têm a coragem de dizer que o Sá Fernandes não merece confiança política se continuar a defender que em 2009 poderá concorrer com o PS contra o Bloco. Afinal o Fernando é do PS ou do Bloco? Os patetas são bloquistas (tiveram 15% na Convenção)e querem um vereador do BE em Lx em 2009.

  • Fernando  
    5 de março de 2008 às 19:16

    Caro anónimo.
    Talvez ainda não tenha sido suficientemente claro apesar de andar-me a repetir à muitos anos. O Bloco apenas é o meu partido porque em linhas gerais é o partido com que mais me identifico. E que vim parar ao bloco, depois de muitos anos sem actividade partidária, mas depois de ter passado, pela OCMLP e UDP, por pensar que estaria num projecto (o projecto do bloco)para alargar o espaço da esquerda, fora das lógicas grupistas e sectárias, numa plataforma de unidade plural em torno de uma programa abrangente mas suficientemente claro em alguns princípios comuns (que se distanciam dos de um PS neo-liberal e de um PC conservador). O Louçã na entrevista faz bem essa distinção do que nos (me) separa do PS e PC. Por isso é o Bloco não é para mim um fim (como parece que é para alguns camaradas) e que sofrem do mesmo mal que os do PC; pensarem que eles sim (nós sim)é que somos os bons e os "verdadeiros defensores dos trabalhadores". Partidarites. Já dei para esse peditório.

    Se o Bloco não for capaz de "aguentar" no espaço político que quer construir pessoas como o Sá Fernandes, o papel do Bloco está esgotado. O Bloco não é (não pode ser) um partido igual aos outros. O Bloco devia ser um espaço em construção ou desconstrução ideológica o mais largo possível para responder à ofensiva capitalista pela defesa de uma sociedade assente em bases socialistas. Se querem que o Bloco tenha um papel útil na sociedade e se apresente aos cidadãos como uma alternativa séria e credível, uma alternativa de poder, o melhor é repensarem o caminho. Se querem que o Bloco ande entretida na pequena política ou apenas a correr por fora, certamente continuarão a ter os 7 ou 8 % e uns 10 ou 12 deputados, mas para mim não serve. Porque eu quero mudar a sociedade a sério em nome dos que sofrem mesmo. E isso apenas se consegue exercendo o poder. Mas quando nem um Sá Fernandes pelos vistos consegue ter lugar num espaço plural como este não sei o que andamos aqui a fazer.

    De resto não interessa aqui saber se eu estou mais esquerda ou não que os bloquistas dos 15%. Se sou comunista, socialista ou anarquistas ou não sou nada disso ...(aliás gostava de perceber que projecto ideológico sustenta esse grupo para aparentemente estar unido - já o percebia melhor fosse uma corrente ideológica, como a FER, UDP ou PSR, por exemplo), o que interessa é que sou uma pessoa de esquerda e tenho um passado que fala por mim, para além das grandes tiradas ideológicas. Sou talvez, como disse um alto quadro do PS em Viana e militou comigo na OCMLP (como outros que andaram pelo PC e depois deixaram de ter actividade política)o "último" dos resistentes doutros tempos. Mas pelos vistos também, a julgar pelo camarada anónimo, também não tenha lugar no Vosso Bloco. Tem de certeza razão se o Vosso Bloco for o que acha que um Sá Fernandes já não tem lugar no BE.

  • Anónimo  
    6 de março de 2008 às 17:31

    Fernando, parece-me que continua a querer ver coisas que não existem . O Sá Fernandes não é do BE, ele mesmo disse esta semana que não tem nada com os partidos. Disse também que além do Bloco tem que prestar contas aos outros que o apoiaram, os monárquicos ambientalistas, o António Barreto, etc..
    E disse que não aceita a orientação política do Bloco de que em 2009 concorremos sózinhos. Estes são os factos. O seu aparente ódio à Luta Socialista não muda a realidade. O Fernando aceita que em 2009 o Bloco concorra em coligação com o PS, a Luta Socialista, aqui em convergência com a direcção do Bloco, não aceita. Simples e transparente.

  • Fernando  
    6 de março de 2008 às 18:26

    Simplesmente impressionante a capacidade de distorcer os factos: eu não disse que o Sá Fernandes era bloquista disse exactamente o contrário. É que se ele fosse bloquista, vá lá ainda era capaz de perceber (mas não aceitar)a Vossa posição. Mas ele é INDEPENDENTE e por isso não está obrigado a estar de acordo com a estratégia do Bloco. E sim é verdade ele tem de prestar conta a TODOS os que o apoiaram e serão TODOS que dirão o que fazer na altura certa. É difícil perceber isto? O que eu falei foi em espaço político do Bloco (um espaço onde caibam todos os que se oponham a uma sociedade baseada em valores neoliberais e que defendam o valor do socialismo como matriz política) e aí tem de caber o Sá Fernandes como devo caber eu ou acha que não cabemos? Achará que cabe quem? Onde está a "nossa" capacidade de seduzir aquela esquerda que não se revê (ou revia) no PS e PC? Ou isso já não interessa? Afinal porque que surgiu o Bloco? O Bloco não é uma UDP, PSR, Politica XXI ou FER um pouco maior! Eu pessoalmente não concordo com a Luta socialista como não concordo com qualquer corrente organizada no Bloco. Se eu quero defender pontos de vistas, defendo-os não preciso encostar-me a outros ...especialmente se não há uma unidade política sustentada.

    No outro comentário perguntou-me absurdamente se eu era do PS agora diz-me que eu aceito uma coligação com o PS. Onde é que eu disse isso? Como pode dizer a esse propósito, "simples e transparente". Desculpe-me mas o melhor é deixar-se de frases feitas e de juízos não assentes em bases concretas, antes de formular um pensamento. É por isso que se equivoca.

  • Anónimo  
    11 de março de 2008 às 10:33

    E a entrevista ao Correio da Manhã? Esclarecedora de como o Zé faz falta ao Bloco...

    "Voltando ao futuro do acordo com o PS. Se está tudo a funcionar bem com o PS como é que Francisco Louça, líder do Bloco de Esquerda, vem dizer que não haverá novo acordo em 2009?
    - Se ler a entrevista que a Ana drago deu esta semana vê que ela não diz isso. Daqui a um ano e tal podemos ver o que é que se passa. É essa a minha opinião.

    - Há posições diferentes no Bloco sobre essa matéria?
    - Não sei se há posições diferentes. Eu sei o que é que combinei com o Francisco Louça. E foi tudo muito claro. Trabalhar durante este ano e meio para Lisboa e por Lisboa. O único interesse. O meu cartaz dizia que era esse o único interesse. Daqui a um ano logo se vê o que é que é melhor para Lisboa. Não é o que é melhor para o PS, para o Bloco de Esquerda. É o que é melhor para Lisboa."

  • Fernando  
    11 de março de 2008 às 16:34

    não li a entrevista do Sá Fernandes nem a de Ana Drago mas estou com os dois: ainda é cedo para dizer o que quer que seja sobre o futuro de uma coligação em Lisboa. O SF faz falta ao bloco e o contrário também, apenas porque um e outro, presumo (da parte de SF não tenho nenhumas dúvidas) estão interessados em resolver os problemas da cidade, dos munícipes e dos trabalhadores municipais. E isso é o que importa verdadeiramente. Um partido não me diz nada se não for para resolver ou defender os interesses das pessoas em especial o dos mais necessitados. falei claro amigo anónimo?

  • Anónimo  
    13 de março de 2008 às 15:32

    Fernando tambem estou de acordo com a sua opinião.

    Afinal quais são as grandes diferenças, entre as propostas concretas de Sá Fernandes para Lisboa, e as do Bloco de Esquerda.

    Eu digo NENHUMAS.

    Há realmente uma nuance tactica compreensivel em quem é vereador e está a cumprir um acordo com Costa, e Louçã, que traça os objectivos politicos das proximas autarquicas.

    Aliás e bem ,o Bloco não comunga todo da posição de Louçã, a Ana Drago tem algumas reticências a esta estratégica, e eu considero-a de todo extemporanea.

    Mas como o Bloco é plural, esperemos que no fim cheguem a um consenso,que sirva sobretudo as populações, ou como dizia o Padre Maximino.

    Espero que o Bloco esteja para servir o povo, e não para se servir do povo.

  • Fernando  
    13 de março de 2008 às 19:35

    Olá caro amigo(a) anónimo último:ainda bem que encontro alguém de acordo comigo neste ponto. É mesmo isso que diz e quero sublinhar os seus dois últimos parágrafos. Já tinha saudades de ver alguém (dentro do bloco) falar nesses termos, entretidos que andamos na pequena política. Um abraço!

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