Pela despenalização do aborto …por amor!
Conversa de gabinete, esta tarde.
- E quanto ao aborto?
- Sou contra.
- Contra!..
- Sim, contra!
- Contra!?..
- Sim, contra, mas voto sim à despenalização.
- Ah, claro …tens razão.
Também esta tarde vi num blogue do Não, uma imagem muito linda, mesmo comovente. Uma Mãe linda de corpo seminu, envolta num lençol branco, o seio a adivinhar-se, com um bebé de semanas ao colo, também ele nu, também ele lindo, um cortinado de seda ao fundo, também branco a realçar os corpos. Uma fotografia linda, como lindas são todas as mães, como lindos são todos os bebés, como lindas são todas as imagens de mães com os seus bebés. Mas aquela imagem é mesmo muito linda, mesmo comovente. Podia ficar por aqui e todos ficariam com esta imagem linda que Vos pretendi transmitir. Uma imagem do belo. Mas não. Em cima das imagens, umas palavras aparentemente imaculadas, mas umas frases assassinas. Uma facada nas costas. Umas vergonhosas insinuações.
Há uns anos, num debate, Francisco Louçã, replicando a Paulo Portas, disse-lhe asperamente, qualquer coisa parecida com isto “cale-se, você não sabe o que é ter um filho”, como resposta à insinuação de que os defensores do Sim, à despenalização, eram uns infanticidas. Uns assassinos. Lembro-me de muitos colegas no trabalho, terem ficado encantados com a resposta de Louçã. Ele estava a precisar, diziam-me os colegas. Eu não concordei com a expressão, embora compreendesse muito bem a reacção de Louçã, perante tamanha desfaçatez. Louçã tinha e tem uma filha. Hoje, apeteceu-me, fazer o mesmo que Louçã. Também eu tenho dois filhos. Deixar uma carrada de insultos. Usar o vocabulário mais ordinário. Não tanto até pelo que é dito, mas pela ignóbil insinuação que consigo suportar menos. Mas cristãmente, apesar de não ser nem cristão, nem religioso, preferi calar-me, deixá-los em paz e com muitos problemas de consciência …se a tiverem.
A imagem está aqui.
(publicado em Janeiro 10, 2007)