A oposição tem um rosto  


Sócrates mostrou-se sempre muito indignado quando a oposição de esquerda afirmava que muito do aumento do preço dos combustíveis era especulativo e que era preciso colocar um travão à especulação.

Agora mudou de opinião (depois de outros dirigentes europeus o fazerem) e decidiu aplicar a chamada taxa Robin do Bosques, aplicando uma taxa suplementar de 25 por cento sobre os lucros calculados da especulação. Se não ouvi mal o valor especulativo foi estimado em 400 milhões de euros. O que quer dizer que o Governo vai arrecadar sobre estes lucros especulativos, 100 milhões de euros enquanto as empresas petrolíferas beneficiam em 300 milhões de euros.


Quanto aos preços finais aos consumidores nada muda. Ou seja o que o Governo faz é ir buscar aos lucros especulativos uma parte do roubo. Ao fim e ao cabo a especulação acaba por servir tanto ao Governo como às empresas petrolíferas.

Francisco Louçã, se também percebi bem, diz que isto é uma inversão da lenda do Robin dos Bosques que dizia-se roubava aos ricos para dar aos pobres. Aqui o Robin dos Bosques fica com um quarto do produto do roubo. Ou seja o Robin dos Bosques, nesta alegoria, é também ele um ladrão como os outros, mas um ladrão mais pequeno.

O que Louçã disse afinal é que esta taxa não resolve o problema fundamental: os preços dos combustíveis não são mexidos e os portugueses continuarão a sofrer na carne a crise e alta dos preços. E o Governo arrecada mais uns impostos. Tudo bem portanto.

Sócrates irrita-se muito! Que não admite ataques pessoais. Que Louçã não tem o direito não sei de quê. Que aquilo não é uma RGA. Louçã responde que não vai aceitar que lhe digam o que deve ou não dizer e no tom e forma que achar conveniente. E que estará ali ou noutro sítio qualquer a defender que Sócrates também possa dizer o que lhe convier dizer em liberdade. Porque a liberdade de opinião não tem preço. Faltará saber se Sócrates estaria nessa barricada.

Estou a meio do debate do Estado da Nação. Apetece-me dizer ainda bem que temos um Francisco Louçã no parlamento. Apenas ele faz oposição a sério. O resto é uma tristeza. A direita está comprometida com o seu passado e não é alternativa é alternância. O PCP está prisioneiro de um discurso repetitivo, enjoativo e sem ideias.

Vou continuar a assistir. Talvez volte ainda hoje!



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