Loures, a miscigenação, os ciganos  





Para mim não existem raças ou existem mas vão acabar. É uma questão de tempo. Com o crescendo da globalização, dos fluxos migratórios, do contacto e a convivência entre diferentes raças e etnias, com o abraçar de novos comportamentos, o partilhar de experiências e culturais, com as raças a perder as suas peculiaridades, com novos acasalamentos, a fusão de genes, a incorporação de uma cultura global, o fim das raças é uma inevitabilidade. O dia virá em que apenas haverá uma nova e única raça: a raça humana.

É sabido que não existem evidências científicas de superioridade de determinadas raças (e mesmo que houvesse!..) mas ainda assim existem grupos fascistas e racistas que assumem comportamentos vergonhosos, agora e principalmente no passado. A cultura de superioridade chegou ao extremo de ensaiar o “apuramento” da raça que envergonhou a nossa história, sendo responsável ao longo dos tempos, por milhões de mortos em todo o mundo.

Os acontecimentos em Loures envolvendo africanos e ciganos, são um caso de incompreensões mútuas, de racismos e preconceitos latentes que o tempo trouxe e o tempo apagará. A alocação dessa gente, martirizada pela história, a “bairros” específicos, tipo circo de feras, mais ou menos tudo ao molho e fé em Deus, tratados como gente inferior, gente prisioneira de uma situação económica e social frágil, desinseridas do meio global, afastadas dos espaços comuns, dos lugares comuns, mais tem contribuído para espicaçar os orgulhos, para criar espíritos de grupo, seitas e mesmo gangs, com o propósito, muitas vezes apenas de provocar, de chamar a atenção, de raiva tantas vezes.

Não defendo paternalismos mas defendo menos a exclusão. Os negros africanos e os ciganos são tão bons e tão maus como nós outros. Não concebo outra possibilidade. Como disse mais atrás é uma questão de tempo. Um tempo em que as migrações intercontinentais, forje um novo homem. Uma única raça. Até lá há que promover políticas de integração total, sem exclusões e sem paternalismos excessivos. Reconhecendo direitos e exigindo deveres.

Por fim quero deixar expresso que tenho uma particular afeição pelos ciganos. Não apenas pela sua forma de estar e viver, mas também por algumas histórias que a eles me ligam. Começo por dizer que aqui em Viana do Castelo, são pessoas que aos poucos se foram integrando no meio, embora nunca ao ponto de perderem a sua identidade. Conheço pelo menos duas gerações de ciganos da Família dos Horácios. Um deles fez comigo a escolaridade básica e os outros frequentaram espaços e lugares comuns: a sopa da Misericórdia a Casa dos Rapazes o Socorro Social.

A maior parte deles tinha uma relação muito especial com a minha Mãe que era sucateira. Apesar de haver dois sucateiros só vendiam sucata à minha Mãe. Outra coisa que a minha Mãe sempre nos referiu é que nunca, ao contrário de outros, a tentaram enganar (também não era fácil apesar de completamente analfabeta).

Por causa disso tenho duas “estórias” engraçadas passadas nas últimas autárquicas era eu cabeça de lista à Assembleia Municipal pelo Bloco de Esquerda. Depois de me reconhecerem como filho da Srª Maria, numa distribuição de propaganda, logo disseram que iam todos (prometeram mais de cem votos) votar em mim, por ser filho de quem era. A segunda foi uma reacção enérgica contra o Jerónimo de Sousa por ter referido numa intervenção, o dito popular, “ um olho no burro e outro no cigano” que os indignou de uma forma que nem Vos conto.


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