Sá Fernandes censurado em Assembleia Municipal. O Bloco manteve um silêncio miserável  


Em 22 de Maio de 2007, no Foice dos Dedos, escrevi que se morasse em Lisboa, votava em Sá Fernandes, quer concorresse numa lista própria ou apoiada por qualquer partido político. Como tenho dito, o importante para mim são as pessoas e os projectos. Com Sá Fernandes tinha a convicção plena de que os interesses da cidade e das munícipes a par de um combate e denúncia da corrupção, da especulação imobiliária, dos compadrios, seriam a sua agenda e a sua única motivação.

Sá Fernandes sempre muito honesto e claro nas intenções, não teve pejo em propor uma união de esforços e vontades de toda a esquerda não comprometida com o situação de caos e da crise financeira, para recuperar “uma cidade que se desertifica, que vive ao sabor da especulação imobiliária e que não tem planeamento estratégico, onde a corrupção impera, o espaço público é desprezado, a exclusão social prolifera e o caos urbanístico está instalado”.

Nesta missão, Sá Fernandes contou sempre com o apoio do Bloco de Esquerda, partido pelo qual se recandidatou como independente, com a excepção do acordo com o PS … “por Lisboa” que teve a oposição de alguns militantes bloquistas, quanto a mim erradamente, não apenas porque Sá Fernandes não tinha como fugir à responsabilidade de assumir responsabilidades executivas, depois de na oposição ter assumido posições criticas da governação, mas porque, simultaneamente, o acordo contemplava muitas das medidas pelas quais sempre se bateu.

Neste lapso de tempo, Sá Fernandes tem feito um trabalho quase exemplar. Com a oposição de tanta gente que não lhe perdoa a ousadia de mexer nos interesses instituídos, numa campanha contínua, orquestrada, planeado ao detalhe, visando destruir a sua imagem, a sua credibilidade, a sua honradez.

Agora chegou a vez da vingança com o PSD a servir de testa de ferro: o PSD apresentou uma moção de censura inédita na Assembleia Municipal, de crítica à actividade de Sá Fernandes, propondo a retirada de pelouros por ter “privatizado" o espaço público ao “acordar a cedência da Praça das Flores, a uma empresa privada durante 15 dias, para promoção do novo modelo automóvel da Skoda", apesar da contrapartida de recuperação e requalificação total do Jardim (um exemplo de desleixo e negligência durante o reinado do PSD), para além, evidentemente, do pagamento das taxas respectivas de uso do espaço e ruído (de resto a aprovação nem sequer foi com Sá Fernandes mas com o Vereador do pelouro Marcos Perestrelo não obstante ter a concordância de Sá Fernandes). Na moção de censura consta também uma referência ao Jardim Estrela que o Continente no âmbito do Mecenato ecológico vai recuperar, a troco de colocação de uma placa.

Enfim nada disto me admira. Sá Fernandes incomoda muita gente! O que me admira e deixa intrigado é o silêncio do Bloco de Esquerda. Mas se calhar nem tanto, depois das críticas públicas de altos responsáveis do Bloco e depois de ter ouvido Francisco Louçã em entrevista à Antena 1 a tecer loas a Helena Roseta, escusando-se a manifestar sem ambiguidades o apoio a Sá Fernandes.

Também o Bloco de Esquerda, cavalga na onda do eleitoralismo puro. Perante os ataques, as calúnias, à figura de Sá Fernandes, o Bloco parece ter receio das consequências eleitorais de manter o apoio a Sá Fernandes.

Não esperava isto do Bloco. Uma completa desilusão! Esperemos pelos próximos episódios. O Bloco está a perder pontos na minha consideração. É que para mim não basta estar de acordo com as propostas políticas do Bloco. Exige-se-lhe lealdade, respeito, defesa dos seus eleitos contra os ataques vergonhosos. E igualdade de tratamento para com todos os eleitos autarcas. E não este silêncio ensurdecedor que dura há tantas horas sem uma palavra de um dirigente ou uma nota nos seus sites.

Adenda: tomei conhecimento agora que a moção foi aprovado embora não tenha efeitos práticos, com os votos a favor do PSD e CDS, a abstenção da CDU (!) e os votos contra do Bloco e do PS.


3 comentários

  • Anónimo  
    18 de junho de 2008 às 01:49

    Apesar de tudo Fernando, como dizia a semana passado alguem do nosso tempo, o Bloco ainda é o único partido, em quem se pode ter alguma confiança.

    E é isso, apesar do que dizes, e com que eu concordo, que me leva a ser um apoiante ( não militante ) do Bloco.

    Agora acho que a forma como alguns sectores do BE têm lidado com o Sá Fernandes é inquilificável, eu voto em Lisboa e continuo a dar-lhe o meu apoio,ele tem cometido ultimamente alguns erros, mas nada que ponha em causa a honra que o BE deveria de sentir, em ter como vereador independente, um homem da estatura do Sá Fernandes.

    O esquerda Net traz uma noticia.

    A Isabel no Troll , honra lhe seja feita , até porque tem sido das pessoas que dele mais tem discordado, sai em sua defesa, assim como o Daniel Oliveira no Arrastão.

    Mas onde está o Luis Fazenda, que depois do caso Pedro Soares é quem tem a ligação BE-Sá Fernandes.

    E sobretudo onde está o Louçã, que neste caso deveria com clareza denunciar a manobra do PSD e defender o Sá Fernandes.

    2009 aproxima-se, espero que o Bloco não vá pagar caro em Lisboa estas hesitações....

    Desconheço se este comentario vai entrar, mas se o leres

    Um abraço, de um velho camarada da UDP

    Augusto Pacheco

  • Fernando  
    18 de junho de 2008 às 16:56

    Estou de acordo com o que dizes, Augusto Pacheco.

    E também no sublinhar que o Bloco é um partido indispensável e qual ainda deposito esperança e confiança, (embora tenha dúvidas sobre se este Bloco é o Bloco do projecto inicial) pese certas coisas.

    Mas confesso que me falta a paciência (deve ser da idade) para ver ressuscitados velhos esquemas e uma espécie de clubite partidária (para não lhe chamar arrogância)para além de sectarismos ainda remanescentes.

    Como não me vejo a travar esses "combates" o mais certo é deixar a militância partidária, porque estar dentro por estar não é comigo.

    Assim talvez opte por acompanhar de fora.

    Um abraço. Acho que aprendi muito com os velhos tempos da OCMLP e UDP, para não querer repitir erros do passado. Um abraço! Devias ter um blogue. De uma maneira geral revejo-me nas tuas posições políticas.

  • Isabel Faria  
    18 de junho de 2008 às 23:58

    A.Pacheco, deixa-me só fazer uma clarificação: a notícia de que é o Fazenda a fazer a ligação entre o Sá Fernandes e o BE é uma notícia falsa da Lusa, baseada, creio, num equivoco de umas declarações do JSF.
    Quando o Pedro Soares saiu do Gabinete Autárquico foi à Concelhia de Lisboa que ficou a responsabilidade de fazer essa ligação política.
    O Luís Fazenda foi o cabeça de lista da Lista A, lista que venceu as eleições para a Concelhia de Lisboa. Talvez por esse facto e também porque o Luís Fazenda é membro da Comissão Política e Deputado por Lisboa, a Lusa (ou o Sá Fernandes) tenha feito essa personalização.

    Isto não altera muito ao que dizes nem é isso que pretendo. Mas, efectivamente, quem está aqui em falta de tomar uma posição política como estrutura é a Concelhia de Lisboa do BE, Fazenda, eu e mais onze camaradas incluídos...não apenas o Luís Fazenda.

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