Um sinal de esperança  

... o comício, no dia 3 de Junho, de pessoas de esquerda, que não se revêem nas políticas neoliberais dos partidos do Bloco Central é um renovar da esperança, um revigorar de alma, um retomar de caminho, um novo estímulo ao combate político, para uma nova esquerda, irreverente, moderna, não sectária, em permanente (des) construção e renovação ideológica, mas agrupada nos valores distintivos da esquerda:a defesa do Estado social, dos direitos humanos, da paz, do emprego para todos, da justa retribuição da riqueza...

Com uma oposição incapaz de contraditar as políticas e a propaganda do Governo, com um povo resignado e complacente, com um programa de reformas mais leve a fechar e com uma conjuntura económica mais favorável, o Governo parecia galgar vitorioso até 2009, com grande exuberância, sobranceria e arrogância, sem que se vislumbrasse quem pudesse impedir esta marcha triunfante, não fosse a crise internacional e a descoberta de que a pobreza e as desigualdades sociais e económicas se instalaram em Portugal de uma forma arrepiante.

O Partido Socialista de Sócrates acabou com o resto de alma socialista, deitou fora as promessas eleitorais, o programa eleitoral, o programa do partido, borrifou-se para os militantes, simpatizantes e eleitores e governa por sobre a acostumada apatia e indulgência dos portugueses, apoiado, numa eficaz e capciosa máquina de comunicação, para atraiçoar as esperanças e os sonhos de muitos portugueses.

Hoje, ironicamente, o país está mais à direita, com um governo de “esquerda” do que com os governos de direita. Para a história ficará um Partido Socialista a realizar políticas de direita que nenhum governo de direita, alguma vez conseguiu e que não tem paralelo na Europa e que própria direita teria pudor de consumar. O PS está hoje, circunstancialmente ou não, confiscado por políticos com princípios neoliberais e internamente não se descortinam alternativas e vontades, competentes e credíveis, para ensaiar uma tentativa de inversão destas políticas, sendo que as dificuldades são imensas, por causa de uma conseguída propaganda que as faz chegar como inevitáveis e únicas.

Por outro lado a restante esquerda partidária, no debate político e ideológico, na apresentação de propostas concretas, na afirmação de políticas alternativas, não consegue perante o povo de esquerda, marcar as diferenças, aparecer como uma opção credível ou mesmo ser capaz de se entender em políticas comuns mínimas, suficientes para mexer as águas, agitar consciências, desenvolver inquietações, em particular dentro do Partido Socialista, de forma a alimentar descontentamentos e provocar fissuras ou roturas definitivas com as políticas seguídas.

Estando o PS tomado por políticos com princípios neoliberais e a realizar com sucesso as políticas da direita, seria espectável um suplemento de embaraço nos partidos à direita e uma oportunidade dos partidos à esquerda. Há direita os embaraços são evidentes com um PSD destrambelhado e um CDS sufocado. O escorregamento para a direita do PS lançou o pânico às hostes do PSD ao pressagiarem um longo afastamento da governação, depois de o PS ter ocupado o espaço político que era o deles. Os rapazes do CDS por sua vez andam de cabeça perdidos, sem ideias, sem propostas, sem saber que fazer para não fenecer. A direita está perturbada. As eleições para líder do PSD exibem os sórdidos e inconfessáveis interesses pessoais e/ou a soldo de gente poderosa que fazem com que o PSD se mexa, ao ponto de perderem a compostura com insinuações grosseiras, ataques raivosos, ofensas pessoais e acusações de toda espécie e feitio. De há muito que se fala na refundação da direita portuguesa. Parece ter chegado o momento. Se por acaso querem chegar ao Governo do país na próxima dúzia de anos.

Mais à esquerda o PCP não quer mudar nada na esquerda. O PCP é a esquerda e o resto é paisagem. O PCP não busca soluções, convergências, alternativas, para uma esquerda nova. Hoje o PCP resume-se a uma oposição conservadora e corporativista e a um protesto de rua pouco eficaz. Para o PCP basta a CGTP como instrumento no combate político para conseguir pouca coisa e o salvo-conduto da memória da luta antifascista, para fixar os militantes. O Bloco tem nos últimos tempos encetado um caminho mais de afirmação própria, determinado em crescer eleitoralmente, de que se constituir como um movimento amplo das esquerdas, na aposta de construir uma alternativa séria de poder. Enfim, nada de bom se nos afigura pela frente.

Nota 1) o comício, no dia 3 de Junho, de pessoas de esquerda, que não se revêem nas políticas neoliberais dos partidos do Bloco Central é um renovar da esperança, um revigorar de alma, um retomar de caminho, um novo estímulo ao combate político, para uma nova esquerda, irreverente, moderna, não sectária, em permanente (des) construção e renovação ideológica, mas agrupada nos valores distintivos da esquerda: a defesa do Estado social, dos direitos humanos, da paz, do emprego para todos, da justa retribuição da riqueza.
Nota 2) o debate de hoje no Parlamento mostra um Primeiro-ministro crispado e insolente, especialmente para com o Bloco de Esquerda e muito particularmente com Francisco Louçã. Hoje chamou-lhe mentiroso por alegadamente Louçã ter dito uma inverdade (a do Presidente da UGT ter andado em sessões de esclarecimento, tal como Sócrates, com militantes do PS sobre o código de trabalho - e que é verdade conforme o testemunham várias noticias de imprensa nunca desmentidas) e cobarde por ter citado o nome do referido dirigente sem ele estar presente. Bem, de tão ridícula esta acusação nem merece comentários. O que fica para a história é a reacção enérgica e justificada de Louçã em relação a Sócrates e aos "uivos" dos deputados do PS.


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