Não ser jovem no seu tempo é um tempo do meu tempo e não deste tempo.  

Cavaco Silva no fascismo mesmo não sendo um jovem não se interessou pela política. Apesar de estar no meio universitário nunca se deu conta da ditadura. Não soube dos estudantes e professores presos ou impedidos de leccionar ou ainda das assembleias reprimidas pela polícia. Cavaco Silva desconhecia também que milhares de jovens morreram e outros foram estropiados numa guerra colonial. Que muita gente lutava pelas liberdades fundamentais e morreram por isso.

Cavaco Silva descobriu a política no 25 de Abril já entradote. Depois chegou a Primeiro-ministro e a Presidente da República. Agora parece estar preocupado com os jovens. Ou melhor; com o desinteresse dos jovens pela política. Mas antes disso, durante dez anos, não se lhe conhece nenhum incentivo à participação dos jovens. Um único acto. Uma conferência, um debate, uma nota de imprensa, uma obra literária, uma qualquer iniciativa que despertasse o interesse, a participação, a intervenção cívica dos jovens na coisa pública. Que me lembre apenas a luta dos estudantes contra as propinas e a política de educação. E como Presidente da República, agora mesmo, demonstrou ser um cobarde ou um comparsa ante a figura desprezível de João Jardim e as suas afirmações sobre os deputados regionais e o completo desrespeito à instituição parlamento regional.

Cavaco Silva podia falar de muita coisa que está por cumprir, trinta e quatro anos depois, da promessa de Abril. Preferiu falar sobre o desinteresse dos jovens na política. Melhor tivesse ficado calado. Os jovens não precisam de discursos moralistas. Precisam de emprego, estabilidade, condições para desenvolver as suas capacidades com tranquilidade.

O desinteresse dos jovens pela política é compreensível. Sendo jovens querem gozar a vida enquanto jovens. Aproveitar o tempo no seu tempo. Ser jovem na idade de ser jovem. Num tempo em que não há tempo é preciso não queimar tempos. Este é o tempo de namorar, de curtir, conviver, ir às discotecas aos bares, fazer amigos, ganhar experiências, recolher saberes. Cometer erros. Ser exagerado. Este é um tempo de socializar, de ser solidário. Quanto ao resto compete aos educadores, aos políticos, à escola, à sociedade, fazê-los despertar para outros interesses fundamentais. A seu tempo.

Não ser jovem no seu tempo é um tempo do meu tempo e não deste tempo.

Dito isto o que posso lamentar mais. O desinteresse dos jovens pela política ou o desinteresse dos políticos pelos jovens? Reformulando: ou o desinteresse dos políticos do poder nestes 34 anos de democracia? Não preciso de responder.


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