“faltam cinco minutos para as vinte e três horas…  

Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, E Depois do Adeus "

Foram estas as primeiras palavras do início da arrancada do 25 de Abril, lidas por João Paulo Dinis aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa. A canção "E depois do Adeus" era a 1ª senha do Movimento das Forças Armadas.


Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.

Mas foi com a canção, Grândola, Vila Morena de José Afonso, a 2ª senha, que o movimento para o derrube do regime avançou definitivamente. Esta canção de José Afonso, foi para o ar, à meia-noite e vinte, colocada por Manuel Tomás, no programa Limite da Rádio Renascença, acompanhado da leitura da primeira quadra.


Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra d’uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

E às 04,20 minutos da madrugada do 25 de Abril, por Joaquim Furtado era lido o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas.

Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.


5 comentários

  • Flor  
    25 de abril de 2008 às 10:54

    Um dia bom de 25 de abril Fernando !
    E minha pergunta é : nesse dia, quando é que soubestes o que estava para acontecer o a acontecer ?

    Lembro me que, aqui onde vivo, foi a ligar as noticias das 13 h que vi esses momentos...parecia que estava a sonhar, parecia ireal...foi uma grande alegria para todos os portugueses espalhados pela esta planeta.

    E agora, para onde vamos ? temos tudos nas nossas mãos e não conseguimos construir um pais onde se possa viver "bém"..que pena !!

    Um beijinho

  • Marco Gomes  
    25 de abril de 2008 às 15:14

    Caro Fernando, um bom dia da Liberdade.

    Ontem fui a um concerto de um grande senhor. Esperava o encontrar, "vasculhei" visualmente e baseado na fotografia aqui exposta, o auditório.

    Não o reconheci.

    Fica o espectáculo. Uma noite memorável.

    Um abraço.

  • Fernando  
    26 de abril de 2008 às 18:05

    Helena
    Dei conta do 25 abril de manhã quando ia para o trabalho e liguei a rádio. Já não fui trabalhar nesse dia. Prostrei-me em frente a um televisor num café O Girassol que fica no jardim público a acompanhar os desenvolvimentos durante umas horas. Foi um momento indescritivel. Depois foi ter com os amigos e viemos todos para a rua comemorar. As ruas já estavam cheias de gente. Toda a gente estava com a revolução.

  • Fernando  
    26 de abril de 2008 às 18:16

    Pois é caro amigo Marco Gomes estava lá mesmo nas primeiras filas, mais concretamente na fila D nº 8. Percebo que não me encontrasses as pessoas eram muitas e também cheguei em cima da hora e saí pouco depois. Em todo o caso pela fotografia se calhar não ias lá. Estou mais velho, com o cabelo mais comprido (em cima já nem tanto -começa a faltar cabelo aí), pareço um um palhaçito, às vezes. Os tempos estão a passar depressa e eu a ficar cada vez mais velho. Preciso de actualizar a fotografia. É do Verão do ano passado mas já é necessário actualizar. Foi pena não me teres encontrado. Tinha muito gosto em conhecer-te (combinamos tratar-nos por tu, não foi?). Admiro a tua lucidez e honestidade intelectual. Um abraço

  • Marco Gomes  
    27 de abril de 2008 às 14:40

    Tenho mesmo muito gosto em nos encontramos.

    Talvez um dia.
    Sim, combinamos tratar-nos por tu, porque o formalismo são para os formais.

    Uma abraço caro Fernando.

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