Qual deveria ser a condenação?  

Uma mulher diz publicamente “eu assassinei” por duas vezes. Só de uma vez “matei” dois gémeos. Outra mulher também confessa que “matei um bebé”. Outra diz que em trinta anos “matou” muito filhos.

Estas mulheres “assassinas” nas suas próprias palavras estão livres. Arrependidas, mas livres. Pedindo perdão, mas livres. Será que deviam estar livres ou deviam estar presas?

O assassinato não é um crime grave punível com o mais alto castigo? Porque será que estas mulheres estão livres? Simplesmente porque fizeram um aborto clandestino ou num país onde estava legalizado.

Se fosse em Portugal e os tribunais cumprissem a lei estariam presa. Num outro país provavelmente poderia ser condenadas à morte por “assassínio” declarado.

Mas não … estas pessoas não são assassinas. São pessoas que recorreram ao aborto, embora tendo em conta as suas próprias afirmações, sei lá, se calhar até, deixem-me ser mauzinho, mereçam esse impropério, tendo em conta que quem faz um aborto não o faz a pensar que vai “matar” alguém, mas sim evitar que uma vida surja. Estes testemunhos foram feitos por mulheres que abortaram e se dizem arrependidas e foram aproveitados e apresentados numa sessão promovida por um movimento pelo NÃO ao aborto.

Se como dizem as próprias, “acompanhadas” pelo grupo do NÃO, são umas assassinas, o lugar certo seria mesmo a cadeia. Á luz da tese dos defensores da não despenalização do aborto, estas mulheres deveriam mesmo ser condenadas e não haveria pedidos de perdão, ou arrependimento que lhes acudisse.

Ao contrário do querem fazer crer não lhes inquieta a consciência. Se tivessem escrúpulos não pediam perdão, clamavam por compreensão com as mulheres que decidam abortar, não pediam a condenação, não empurravam para o recurso ao aborto clandestino, pediam apoio médico, apoio de profissionais de saúde, pediam equipamentos apropriados, pediam apoio psicológico, pediam segurança e higiene na interrupção da gravidez. Pediriam condições para as mulheres decidirem em consciência, em liberdade, reclamavam apoios de toda a natureza para auxiliar nas decisões.

Quando alguém defensor do não à despenalização, coloca no mesmo plano “os assassínios, o abuso das crianças e a interrupção da gravidez” está tudo dito sobre a doutrina moral destes defensores da penalização das mulheres.

Dizem eles que interromper a gravidez até às 10 semanas é um crime. E na mesma lógica, interromper a gravidez a qualquer momento por violação, por má formação do feto, colocar em risco a vida da mãe, não é também “matar”?

Despenalizar por amor é votar sim!

(publicado em Dezembro 7, 2006)