O aborto e o oportunismo do PCP  

OPCP numa campanha vergonhosa, não olha a meios para atacar o Bloco de Esquerda. Quando os adversários, nesta luta, contra a despenalização do aborto, estão identificados, o PCP inventa mais alguns. Um PCP, estranhamente, inquieto, ou talvez não estranhamente, mente. Não é a primeira vez que o faz. O PCP tenta colar o BE ao atraso na resolução deste problema. Só por má fé, desonestidade política, oportunismo. Não ganha nada com isto. Não ganha votos, não ganha simpatias.

Não se trata aqui de fazer a defesa do Bloco por defender.

Trata-se de denunciar a mentira, a sem-vergonha, o oportunismo. Todos sabem do empenhamento do Bloco na alteração da actual lei. Desde o primeiro dia.

Não me esqueço de ver os militantes na rua, em sessões de divulgação e de esclarecimento, da colocação de bancas públicas, de painéis, no empenho pela petição popular por um novo referendo, na apresentação de diplomas na AR, nas votações a favor de outros no mesmo sentido.

O que é preciso mais? Que o Bloco tenha a posição do PCP?!

Mas isso não é possível. Tratam-se de duas concepções de democracia. É uma grande diferença. Houve referendo, o Bloco foi contra, mas a partir do momento que houve, empenhou-se, fez campanha e perdeu. Eu, também não gostaria, se tivesse ganho, nas mesmas circunstâncias de ver alterado pela Assembleia, uma decisão popular, mesmo que através de uma maioria pouco participada e por pequena margem.

O PCP opõem-se à realização de um novo referendo, votou contra, juntamente com os partidos da direita. Acha que o parlamento tem uma maioria suficiente favorável à alteração da lei. Claro que tem. Mas o PS não vota a favor, sem submissão a um novo referendo. O Bloco de Esquerda, também defende um novo referendo. Defendeu-o logo a partir do momento em que o primeiro se realizou. Concedendo um tempo. Considerou e bem que não devem ser maiorias circunstanciais na Assembleia a desrespeitar uma vontade expressa nas urnas. Amanhã a maioria é outra e essa maioria, faz o mesmo e volta tudo ao início. Não pode ser.

Já passaram uns anos largos sobre o primeiro referendo. Está na altura de devolver a palavra aos portugueses. Muita coisa mudou, entretanto. Acredito que um novo referendo vai alterar a lei. O PS não pode adiar mais. O referendo já podia e devia ter sido realizado. Se mais obstáculos forem criados, aí sim. a assembleia deve intervir. De mal o menos. O PS anuncia querer o referendo no início de 2007, depois de não ter feito muito para se realizar, ainda este ano. Entretanto, segundo sei, o Bloco já esgotou o prazo que a si próprio teria dado e afirma votar a favor de uma decisão na AR se alguém o propor. Contudo, é sabido que está condenado à nascença. O PS não votará a favor. Tal como PCP votou contra este segundo referendo. Se dependesse só destes dois partidos, a ter em conta as suas votações, nem tínhamos votação na AR, nem tínhamos referendo.

Convém fazer estas distinções e estes esclarecimentos. E o PCP que escolha os alvos certos e não queira fazer aproveitamento político de uma situação dramática das mulheres e famílias.

(publicado em Julho 6, 2006)