Assim muito de mansinho para não criar polémica  

Os sequestradores do avião sudanês depois de libertaram os 187 passageiros e os 8 tripulantes acabaram por se entregar às autoridades líbias, esta tarde, depois de negociações que duravam desde terça-feira à noite. Não houve mortes, feridos, nem casos de violência. E as negociações foram pacientes.

Talvez seja abusivo comparar com o assalto e sequestro ao BES em Campolide, embora tal como cá, houvesse pessoas sequestradas e certamente correndo perigo de vida.
Mas encontro pelo menos duas diferenças e um ponto em comum: 

a) as negociações foram mais pacientes; aqui foram oito horas e achou-se que era demais, na Líbia foram as horas necessárias até à rendição, desde ontem à noite até esta tarde. b) o objectivo foi sempre o de obter a rendição, sem tentar atrair os negociadores para o ponto de mira dos snipers ou recorrendo à violência, não havendo por isso mortos nem feridos a lamentar.
O ponto em comum: cá como lá a libertação dos sequestrados, a actuação dos negociadores e das forças policiais, foram saudadas pela população. Só que aqui houve pelo menos um morto (eram para ser dois) e um ferido. E fomos apesar de tudo mais efusivos.

E não pretendo dizer mais nada.

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Portugal está a tornar-se um país perigoso?  

A criminalidade, pequena, média ou violenta, é notícia todos os dias na imprensa nacional, jornais, rádios e televisões. Depois são as conversas de café, os fóruns nas rádios e televisões, a direita a reclamar mais policiamento e mão dura, exigindo a demissão do ministro, os partidos da esquerda sem saberem muito bem o que dizerem, por não poderem ignorar os efeitos, mas prisioneiros de pressupostos e preconceitos ideológicos...

Pela minha parte, sinceramente e sem nenhuma explicação razoável, penso eu, não consigo ter os sentidos atentos, a este tipo de notícias, como não tenho, aliás, para as notícias dos acidentes, ou de outras desgraças do mesmo género. Desligo tão completa, automática e inconscientemente ao ponto de, quando as atenções voltam, não saber se estou a ouvir falar de novos crimes, novos assaltos, outras mortes, ou se estão a repetir, pela enésima vez as mesmas notícias, uma característica muito peculiar das nossas televisões, como é sabido.

Depois vêm os dados mais ou menos estatísticos e mais ou menos contraditórios e ainda os palpites:

a) Portugal é o 2º país da Europa e 7º no mundo com mais polícias por mil habitantes. E um dos mais seguros.
b) Segundo o Observatório de Segurança a criminalidade organizada e profissional está a aumentar e veio para ficar.
c) O responsável pelo Gabinete Coordenador de Segurança diz que "não lhe parece" que a criminalidade esteja a aumentar mas apenas o relevo mediático é que é maior.

Não sabemos bem, todos, como estamos. Pela parte que me toca não entro em paranóia. Sou dos que pensam que, sem descuidar dos problemas de segurança, continuamos a ser um país seguro e de baixa criminalidade. O problema, não são como a direita reclama, um estado mais policial e mais duro com todos o tipo de crimes. O que não nos faltam são polícias e leis pesadas. Mas talvez nos falte (e nisto o Governo têm grandes responsabilidades) são polícias melhor formados, mais bem equipados e mais perto dos acontecimentos. E sobretudo sobra-nos muito alarido.

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Não fosse propaganda e seria uma medida exemplar.  

A PT Compras do grupo PT, segundo o Diário Económico, criou uma plataforma de contratação electrónica, exigindo em troca, o pagamento de comissões de registo e de manutenção da conta aos fornecedores, por forma a partilhar os custos administrativos e de gestão da plataforma que permite "garantir a transparência total com os seus fornecedores".

Uma boa medida. A um esforço de transparência nos negócios, que permita aos fornecedores acompanhar e controlar todos os processos, desde o concurso de fornecimento, à decisão, aos prazos de pagamentos, entre outros, é aceitável um pequeno esforço, de pouco mais de 500 euros por empresa, por forma a partilhar os custos administrativos e de gestão da nova plataforma, que em primeira mão, serve os fornecedores.

Outra medida prevista é a imposição de regras mínimas para ser considerado um potencial fornecedor:

"A PT não tem fornecedores que não cumpram regras ambientais e de poupança de energia, que não tenham os impostos em dia e que mantenham trabalho precário".

Bem a PT já provou ser uma especialista em propaganda, porque se não fosse assim, só poderia saudar com entusiasmo, estas regras mínimas. O problema é que me lembro logo dos call-center da PT, na sua maioria preenchidos por trabalhadores precários, precisamente, com recurso a empresas de trabalho temporário, como aliás vai suceder, em 2009, se o prometido for devido, com os 1200 postos de trabalho a criar em Santo Tirso. E já agora lembra-me também de uma outra medida emblemática interna, assinado pelos sindicatos e a empresa, de um Código de Ética, mas que tem sido ignorado, nas relações entre as partes.

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O Benfica em construção  

O Benfica evidenciou ontem, com clareza, uma das fraquezas do seu conjunto: falta-lhe no meio-campo um jogador que pense o jogo nas manobras ofensivas. Um jogador com uma ampla visão periférica e um profundo conhecedor do modelo de jogo da equipa e das movimentações dos companheiros na transição ofensiva. Um jogador com uma capacidade e inteligência técnica que desequilibre quando as linhas de passe estão fechadas Um jogador que jogue de cabeça levantada: que não precisa de olhar para a bola para a receber ou passar aos companheiros. Um jogador que empreste ritmo e velocidade ao jogo.

Não tendo esse jogador - com Carlos Martins a servir de recurso, perante equipas que se fecham muito atrás, as transições ofensivas, tornam-se pastosas, previsíveis, sem chama, sem ritmo, sem clarividência, pelo que caberá aos atacantes, a responsabilidade de se desposicionarem, saírem das marcações cerradas, para permitir as entradas de trás, especialmente nas laterais, com Leo e Nelson (apostaria mais neste jogador) e tentar aproveitar uns rasgos individuais de algumas das suas individualidades, mais em tabelinhas e desmarcações rápidas, por parte de Aimar, do Reyes e do Leo ou através dos desequilíbrios individuais do Di Maria. O Cardozo estará lá para as sobras se a bola lhe chegar ao pé esquerdo. O Nuno Gomes será sempre uma alternativa a ter em conta, para fazer o lugar de Aimar, com o recuo deste para o meio-campo. Mais que um ponta de lança, parece-me a mim, falta ao Benfica um organizador de jogo, tipo Rui Costa.

Com equipas mais fortes, o Benfica parece-me mais equilibrado, porque a dinâmica do jogo é mais colectiva. Mas há ainda muito campeonato pela frente e a ver vamos como reage o conjunto e os adeptos a uma nova filosofia do jogo e a uma equipa em construção. Desta vez, se tudo correr bem, estarei no próximo fim de semana a assistir ao jogo contra o F.C do Porto, fazendo a minha estreia em jogos no novo Estádio da Luz.

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Não nos tomem por lorpas!..  

Quando Sócrates afirma que foram criados 133 mil novos empregos líquidos o que está a querer transmitir, para os mais incautos, é que há menos 133 mil novos desempregados que há quatro anos. O Governo fala em criação de empregos líquidos. Ora por criação de empregos líquidos, andássemos porventura todos distraídos, seriamos tentados a pensar que, aos mais de 400 mil desempregados, foram subtraídos 133 mil desempregados, é fácil de ver.

Esta é verdadeiramente a mensagem subliminar que o Governo tentou fazer passar. Mas que não é verdade como se sabe. O que a economia conseguiu foi estancar o desemprego ao absorver a nova população activa estimada em 131 mil pessoas. O que quer dizer na prática, é só fazer as contas, que foram criados um pouco mais que 2 mil empregos líquidos. Não há mais nada a acrescentar: estamos praticamente com os mesmos níveis de desemprego, desde que o Governo de Sócrates tomou posse. Esta é que é a realidade dolorosa.

A promessa dos 150 mil empregos é para ser dedutível aos mais de quatrocentos mil desempregados. As outras contas são contas para tentar enganar papalvos. E há alguns. Não nos tomem é a todos por lorpas! Recuperar 150 000 empregos era a promessa!

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Por um divórcio sem culpados  

O Presidente da República tem poderes um bocado absurdos. Um deles é o de vetar porque sim. Sendo que o porque sim são os vetos que decorrem das suas próprias posições políticas e ideológicas sobre os assuntos.

Em minha opinião, apenas no caso de um Governo de maioria absoluta, que use e abuse da posição dominante, e sistematicamente não atenda às contribuições das oposições, para o debate e a decisão, nomeadamente quando são expressas em votações de leis, exclusivamente por essa maioria, deviam poder merecer, uma decisão como o veto político, procurando um mais alto consenso, para além obviamente das decisões políticas que violem os princípios constitucionais.

O veto de Cavaco Silva à lei do divórcio é um veto ideológico e um voto preconceituoso assente em convicções religiosas. Cavaco Silva é contra o fim do divórcio sem invocação da culpa. Cavaco Silva não admite o fim do casamento em resultado do fim do amor com o(a) parceiro(a) do casamento ou porque a relação não correu bem e é insustentável. Para ele tem de haver um culpado. O resto são invenções de situações que estão perfeitamente acauteladas na lei do divórcio ou na lei geral, como são as que se fundamentam na desprotecção do cônjuge que se encontre em situação mais fragilizada, bem como dos filhos menores. O PS não devia alterar uma virgula da proposta aprovada na Assembleia da República.

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Publicidade enganosa  

A PT há muitos anos que encetou uma estratégia de redução dos seus efectivos, num processo, de renovação, rejuvenescimento e aumento da qualificação profissional, com o intuito, segundo a Empresa, de responder aos desafios da concorrência e da competitividade, num mercado liberalizado e agressivo.

Esta estratégia tem tido o apoio dos sucessivos governos, numa primeira fase, com força de decreto-lei, foi concedido o direito à aposentação aos beneficiários da Caixa Geral de Aposentações, com 50 anos de idade e 30 anos de desconto e a pré-aposentação aos beneficiários da Segurança Social com pelo menos, salvo erro, de 55 anos de idade e 25 anos de desconto, sendo que a Empresa, cobriria financeiramente os encargos com essas duas instituições, decorrentes do tempo em falta para se atingir a idade legal da reforma.

Numa segunda fase que ainda continua, a PT tem vindo a apresentar sucessivos pacotes de saída, visando a rescisão ou a suspensão do contrato de trabalho, a todos os trabalhadores, indistintamente, com pelo menos 50 anos de idade e 20 anos de descontos, num movimento que, nos últimos anos, conduziu à saída de largos milhares de trabalhadores.

Este processo, embora não obrigando ninguém à saída e não obstante, também, ter ainda condições que se podem consideradas atractivas, mas sempre piores que as anteriores, transporta uma carga psicológica enorme para quem é obrigado a tomar uma decisão e simultaneamente, como consequência, tem-se traduzido, num aumento exponencial da carga de trabalho e de uma grande pressão sobre os resultados que recaem nos trabalhadores que ficam. Ainda por cima, os que ficam, estão obrigados a suportar, as constantes alterações da estrutura e a lidar com as novas chefias, quase sempre impreparadas, para não dizer incompetentes, colocadas à pressão em lugares de responsabilidade, para os quais não têm nem experiência nem capacidade de liderança e muito menos um relacionamento pessoal adequado.

A criação de um call-center, supostamente, para criar 1200 empregos, não deixa assim de ser surpreendente, sabendo-se que a PT mantém sem funções e em casa, a pagar-lhes o vencimento por inteiro (com excepção do subsídio de alimentação), embora com uma subtracção de cerca de 10% após os 55 anos até à reforma, largas centenas de trabalhadores/trabalhadoras, com suspensão de contrato, pessoas experimentadas e de competência demonstradas, precisamente em funções idênticas às que vão desempenhar os novos postos de trabalho. Para todos os efeitos, ficará ainda a dúvida, que só o tempo esclarecerá, se a criação deste novo empreendimento não vai acarretar o fecho de outros call-center da Empresa noutras localidades, com consequente "deslocamento" ou o fim do emprego para essa gente.

Neste quadro é fácil de perceber que o que a PT pretende, com o encobrimento do Governo, é substituir trabalhadores efectivos, com horários de trabalho e com direitos sociais e laborais, por outros, com trabalho precário, sem direitos, com baixos salários, contratados através de empresas prestadoras de serviços, cujo lema assenta, precisamente, numa lógica de precariedade e de ausência de direitos.

O anúncio do Governo de Sócrates de criação de 1200 postos de trabalho, não deixa assim de assentar numa falácia e de um colaboracionismo com um modelo de trabalho, baseado na exploração desenfreada, capciosamente embrulhado, através de uma poderosa máquina de propaganda, em trabalho efectivo e qualificado, quando aquilo que vai ser é um emprego precário e sem direitos.

Uma nota final: a afirmação de Louçã que a PT despediu trabalhadores ao longo destes anos assenta num equívoco. Os três mil e tal trabalhadores de que fala, não foram despedimentos mas rescisões ou suspensões de contrato de trabalho por mútuo acordo.

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Festas da Agonia  


Começam hoje as Festas da Agonia. Desta vez com a Procissão ao Mar. Ver vídeo.

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Propaganda barata para esconder um modelo de sociedade sem direitos  

"descontados os empregos que se perderam e os empregos que se criaram, o saldo é positivo em 133 mil novos empregos", disse Sócrates durante a cerimónia de assinatura do protocolo com a PT que prevê a criação de 1200 empregos num call-center em Santo Tirso. Há dias o Diário de Notícias, baseado em dados oficiais da Segurança Social, informava “… que o desemprego estava a aumentar, apesar de ter havido uma diminuição do número de pessoas a receber o subsídio de desemprego”. Há aqui alguém que se enganou. Ou nos quer enganar.

A criação de 1200 empregos a concretizar-se é uma excelente notícia. Mas em contrapartida é um emprego com qualidade mínima “garantida”: um emprego precário, sem direitos sociais, com salários baixos, agenciado através de empresas de trabalho temporário.

E é isto: enquanto dispensa indistintamente, os trabalhadores com 50 ou mais anos de idade, trabalhadores efectivos, trabalhadores experientes e competentes, mas trabalhadores com direitos, pressionando-os a suspender o contrato de trabalho, com perda ou diminuição de regalias e de vencimentos, a Portugal Telecom substitui esses trabalhadores por outros, sem direitos, sem horários de trabalho, sem remuneração condigna, com ritmos de trabalho intensos, com grande pressão laboral. Com o beneplácito do primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates.

É este o modelo de trabalho e de país que nos querem oferecer. Tudo o resto é propaganda barata.

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Nem todos os crimes são criminosos  

Passamos de um extremo ao outro com facilidade. Alguma esquerda então, meu Deus! Agora parecem estar na primeira linha da condenação dos pequenos delitos. Em nome da igualdade na justiça, que é inquestionável, pede-se a cabeça, salvo seja, de quem assalta uma vacaria para roubar uns ferros velhos, um pequeno furto num supermercado para satisfazer uma necessidade básica, o roubo de um livro, o furto de um MP3, eu sei lá mais o quê!..

De repente, parece que certa disposição para determinados tipos de "crime" ou "violência" não se encaixam nas dinâmicas sociais, na exclusão social, nas questões socioeconómicas e culturais, numa complexa rede de organização social que compreende uma divisão social e justifica a luta de classes.

De repente parece que alguma esquerda se esqueceu do que se convencionou chamar de "violência estrutural" que nasce e cresce com as desigualdades sociais, com a fome, o desemprego, e outros problemas sociais.

De repente parece que não são ou foram estes processos que atiram certos grupos ou para a consciência revolucionária ou para a delinquência pura e dura.

Não defendo o crime claro, mas não alinho no politicamente correcto, da condenação ruidosa, sem mais, sem alinhavar umas palavras, contra o senso comum, que pede sangue e mão pesada sobre os criminosos, confundindo a natureza e a dimensão dos crimes.

Bem e não vou falar dos crimes de colarinho branco, mais desculpáveis pela sociedade, infelizmente de que a pequena criminalidade.

Eu que sou um critico das religiões, não posso deixar de saudar a afirmação da Igreja, para uma certa contenção e contra qualquer campanha xenófoba, a partir dos últimos crimes, praticados por imigrantes ou por pessoas da comunidade cigana.

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Posso ser o próximo morto a tiro  

Começo a ficar com medo. A verdade é que planeio efectuar um roubo mal a circunstância aconteça. É uma coisa pequena, penso eu, mas que nos tempos que correm, é capaz de ser o suficiente para me enfiarem um tiro na cabeça, embora a intenção, claro, seja apenas a de me assustarem, mas que por uns quaisquer efeitos esquisitos, costumam, como é sabido, matar sempre alguém. Eu só quero, senhores agentes policiais, senhores proprietários, meu Povo, cerca de uns 10 metros cúbicos de terra para umas floreiras. Coisa pouca, acho eu. Dantes ainda conseguia ver uns letreiros a dizer que se oferecia terra, mas agora nada, nem sequer um sítio, onde sorrateiramente, na calada da noite, pudesse cometer este meu pequeno prazer. Mas é como disse, começo a ficar com medo. Se calhar o melhor mesmo é não arriscar e comprar antes a terra (se encontrar vendedor) mas confesso que me dava um certo gozo lembrar os tempos de criança, onde cometia pequenas maldades como esta, sem estas ameaças sobre a cabeça. Ah e se levar isto para a frente, como noutros tempos, peço ajuda ao meu amigo Jaime (que é cigano já agora).

Actualização. Declaração de interesses: tenho um filho GNR.

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Perceber a guerra no Cáucaso  

Um Cáucaso bicudo
por Rui Tavares no Cinco dias.
Uma leitura imprescindível. Com a devida vénia segue parte do artigo:

Se há uma semana alguém perguntasse qual seria a melhor estratégia internacional da Geórgia - como da Arménia, sua vizinha - a resposta seria: esperar. Ainda há poucos meses, George W. Bush tinha proposto a entrada do país na NATO. Os aliados europeus não aceitaram a ideia; se o tivessem feito, seriam agora forçados a entrar em guerra com a Rússia. Mas com tempo e persistência a Geórgia acabaria por se associar de alguma forma à NATO e à União Europeia. Teria então mais peso para uma solução que lhe fosse favorável na Ossétia do Sul, que declarara a sua independência sem reconhecimento internacional, na década de noventa.

A Ossétia é habitada por um povo de língua aparentada ao persa; metade vive no território da Rússia (a Ossétia do Norte) e o restante na Geórgia. Têm sido aliados dos russos, mas o território da Ossétia do Sul é georgiano desde as fronteiras desenhadas pelo Kremlin soviético no tempo de Estaline - que era georgiano de nascimento.


Ler tudo no Cinco dias

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Sangue ao vivo e a cores é que é preciso  

Se todos dizem que a polícia fez bem em disparar, à queima-roupa, contra os sequestradores do BES porque não havia outra solução depois de oito horas de negociação -ou morriam os sequestrados ou os sequestradores, quem sou eu que não sou um especialista, para ir contra este senso comum?

A maioria dos portugueses aplaude estas mortes. Creio aliás que aprovariam os disparos de morte contra os assaltantes mesmo que não houvesse sequestros. Os portugueses sentem-se inseguros e atemorizados. As inflamadas notícias televisivas sobre a violência extravasam o razoável. Quase parece que Portugal é um país de malfeitores e que a violência está institucionalizada. Mas não é verdade! Não há nenhum dado oficial ou oficioso credível que aponte para o aumento da violência em Portugal. Ou melhor há mas é onde se menos fala: na violência familiar. E não é apenas uma violência psicológica, sexual ou levemente física. Não! É a violência física que mata: só este ano, segundo a UMAR, foram já 17 mulheres mortas às mãos dos maridos, dos companheiros ou dos filhos.

Mas nós regozijamos-nos contra as doutas sentenças sumárias de presumidos especialistas: “não havia solução. Ou eram uns ou outros. A polícia fez o que tinha de ser feito e no tempo certo”.

Noutros países estes processos de negociação costumam ser mais demorados, diria mesmo mais sérios e sem truques sujos, como atrair os sequestradores para um local fácil de serem atingidos, num acto de má-fé negocial: um assaltante de um banco não pode ser tratado como um assassino sem serem conhecidos os seus antecedentes criminais, as motivações psicológicas.

Não quero com isto dizer que a solução encontrada não foi a melhor. Não sei. Mas é seguro que não teve a eficácia pretendida ao contrário do que dizem. Ao não atingir de morte o assaltante ferido este num acto de desespero poderia ter desatar aos tiros e provocado os males que supostamente se queriam evitar. E ao fim e ao cabo sempre acabou por morrer uma pessoa. Sem direito a julgamento nas instâncias próprias.

O que não concordo é que sejamos acríticos, que aplaudamos a morte de pessoas sem mais, que desvalorizemos a condição humana, que se condene à morte as pessoas, em directo, enquanto nós assistimos refastelados no sofá, como se tivéssemos a ver um filme de cinema, escolhendo o lado dos bons e condenando à morte os maus sem julgamento e sem defesa.

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Uma Olímpica mentira  

João Marcelino, director do Diário de Notícias, num artigo de opinião, justifica o "autocrático" regime chinês com os desmandos da revolução cultural de há 30 anos a que Deng Xiaoping pôs termo. João Marcelino não denuncia as crueldades do regime, as torturas, os assassinatos, as prisões, as deportações de oposicionistas, não fala da escravatura assalariada, da exploração de mão-de-obra infantil, do desrespeito pelos direitos humanos, da falta de liberdades, da falta de democracia. João Marcelino "desculpa" os dirigentes e fala numa abertura lenta, para a qual o “mundo deve ter paciência”. João Marcelino, no artigo, praticamente nem sequer fala dos Jogos Olímpicos. Mas inicia a crónica com uma Olímpica mentira, naquilo que parece ser afinal o objectivo do seu artigo de opinião: que "Louçã dava vivas a Mao Tsé Tung". Assim mesmo. João Marcelino não o diz o que diz por algum equívoco. Não, o Director do Diário de Notícias diz o que diz intencionalmente, sabendo que está a mentir. Diz o que diz para atacar o político, para atacar o principal opositor a Sócrates, para descredibilizar a organização de que Francisco Louçã é o principal dirigente. E diz isso porque o Diário de Notícias é, a cada dia que passa, o órgão por excelência de propaganda do Governo. Mas Francisco Louçã nunca foi maoista ao contrário de Durão Barroso, de Jorge Coelho, do Pacheco Pereira, de José Manuel Fernandes, entre outros tantos distintos políticos e comentadores do regime.

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Títulos de notícias que levam ao engano  

Há menos pessoas a receber subsidio de desemprego. Assim de chofre parece uma boa notícia mas é uma notícia enganadora. Não, não houve uma diminuição do desemprego. A realidade é bem diferente. Há ainda mais desemprego. E cada vez mais desempregados de longa duração, de tão longa duração que se esgotou o período a que tinham direito ao subsidio. E recebem menos pessoas ainda porque se recorre cada vez mais aos recibos verdes nos contratos de trabalho. E ainda porque aumentaram as exigências burocráticas para os desempregados receberam o subsídio. Não são boas notícias, pois claro. Mas para o Governo o desemprego e o trabalho precário não constituem preocupações. E pelos vistos o desemprego de longa duração, a precariedade e a burocracia ainda ajudam as contas da Segurança Social e no combate ao défice. O Governo está a olhar por nós, está-se mesmo a ver.

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Os Jogos Olímpicos que podem mudar alguma coisa  

Mais daqui a pouco tem inicio os Jogos Olímpicos. São bem-vindos! Não me interessam as medalhas, as honrarias, os resultados. Interessa-me o espectáculo, a beleza dos corpos, o esforço, a determinação dos atletas. A vontade de ultrapassar os limites. O resto deixou de fazer sentido. O espírito Olímpico não existe. Os Jogos Olímpicos são na actualidade uma grande manifestação de vaidade dos dirigentes desportivos, de comércio capitalista e até de branqueamento de ditaduras e de ditadores.


Da China da escravatura assalariada, do trabalho sem direitos, da exploração do trabalho infantil, da repressão policial, da ausência de liberdades, enfim do país do capitalismo mais selvagem, não se espera que vá mudar alguma coisa com os Jogos Olímpicos, mas já se espera que o Mundo esteja mais desperto e alerta para clamar por mudanças no regime tirano. E sempre fica a expectativa de que algum ou alguns atletas, consigam fazer envergonhar o regime, com algum acto de rebeldia democrática.

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Escrita Vadia  

Quem não tem dúvidas
Não escreve poesia.
Escreve teses, ensaios,
Poesia não é resposta
Mas sim interrogação.
Quem não se quer expor, mostrar,
Não escreve poesia
Que poesia é montra
De tudo o que vai dentro.
Quem se quer resguardar,
É melhor não escrever poesia
Porque escrevendo
Dá a alma ao manifesto
Torna-a coisa pública
Dando-se no verso: É
E sendo
É de todos os que souberem ler.
Escrever
É mergulhar no lado mais escuro
E mostrá-lo sem defesas nem pudor.
A poesia
Tem de ser vadia, vagabunda
Sem abrigo e sem morada
Ousar com a coragem
De quem nada tem a perder
Ou é coisa vazia
Embalagem sem conteúdo
Mera métrica alinhada
Mas não a arma/espelho
Que deve e tem de ser.

In Encandescente, pág.44, edições Polvo 2005

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Na hora que havia de vir  

Os lábios se uniram num beijo de gratidão recíproco e selaram o encantamento que ambos sentiam. Deixaram-se cair para o lado, com os seus corpos nus enlaçados, num abraço forte que teimava em não se desunir. Ficaram assim uns tempos. Um tempo que não existia. Não havia horas. Só as horas seguintes. Havia um só corpo, um só coração, em dois corpos fundidos.

A respiração sufocante, a palpitação descompassada, iam abrandando, tomando o seu ritmo normal. Estavam no deleite dos virtuosos a comprazer-se com a ocasião ímpar.

Amor, paixão, desejos tudo ali estava presente a querer continuação. Na hora que haveria de vir. As roupas no chão, a cama desfeita, os lençóis embrulhados, os corpos húmidos de transpiração, deixavam adivinhar o que ali se tinha passado. Não durou muito e adormeceram nos braços um do outro, muito agarradinhos.

Não sei quanto tempo se passou. Pareciam ter sido horas. Ali não havia relógios. Irá ficar para sempre a dúvida. Os olhos resplandecentes dela abriram-se, sacudiu os cabelos com as mãos e aplicou-lhe um beijo suave e terno nos seus olhos semicerrados que se tinham recusado a fechar ao inesquecível acontecimento. Ele despertou sobressaltado. Num ápice passou-lhe pela cabeça que teria estado a sonhar. Mas não, o sorriso radioso da amada, não enganava. Delicadamente retribui-lhe com um beijo na boca. Estavam ambos acordados.

Abraçaram-se de novo. Não falaram, não era preciso. Pela cabeça de cada um deles o filme era mil e uma vez rebobinado. Suas bocas se uniram uma vez mais. As línguas se tocaram outra vez. Estavam insaciáveis. Ela gostava muito de o beijar e ao mesmo tempo mergulhava o seu olhar penetrante, nos dele, tentando perceber as suas motivações próximas. Não precisou de muito tempo.

Seus corpos se entregaram um ao outro, de novo. De repente sem darem por isso estavam no chão embrulhados e balanceados em movimentos puros de sedução e atracção que o deslumbrava. Ele pegou nela e sentou-a no seu colo, frente a frente, as costas dele coladas à parede fria, mas isso não importava. Na sua frente estava a mulher que queria possuir.


(publicado originalmente no Foice dos Dedos)

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Ainda a relação Bloco e Sá Fernandes  

"Foi-se, não volta mais"

Não adianta procurar a virgindade perdida debaixo da cama. É uma verdade universal e da política. Estranho que só o Bloco de Esquerda não saiba disto.

Há um ano, o Bloco de Esquerda fez um acordo na Câmara Municipal de Lisboa para possibilitar a colaboração entre António Costa e o vereador independente do BE José Sá Fernandes. Pessoalmente, acho que fizeram muito bem, mesmo tendo em conta que o PCP e a lista de Helena Roseta não quiseram entrar nesse acordo.

Um ano depois, o acordo existe. Para o BE, esta já não deveria ser uma questão de “se” nem “quando” perder a virgindade política. Foi-se. Não volta mais.

José Sá Fernandes nunca foi consensual; há neste momento gente a observar atentamente todos os seus movimentos e qualquer erro que ele cometa. Talvez fosse aconselhável o BE distanciar-se dele? Não, não é.

Em primeiro lugar, José Sá Fernandes é um independente. Enquanto o Bloco de Esquerda constituía a sua personalidade, foi importante para demonstrar abertura e capacidade de diálogo com que se distinguisse o novo partido, por exemplo, do PCP. Pois bem: quem fica com os cómodos leva os incómodos. Se o BE se afastar de Sá Fernandes, será legítima a pergunta: os independentes só lhe interessariam enquanto não traziam problemas, ou não são verdadeiramente independentes?

Claro que, neste momento, é Sá Fernandes quem transporta o ónus de uma câmara municipal em que a única grande notícia é que acabou o caos e a corrupção anterior. Isso nunca basta e ainda bem; as pessoas querem ver a sua cidade a progredir. Para quem tenha tentações maquiavélicas, dir-se-ia que é Sá Fernandes quem tem mais a perder com uma ruptura. Errado. Um segundo depois de acontecer, o BE seria denunciado como calculista, e com razão.

Mas parece que o PCP e especialmente Helena Roseta têm uma vida mais sorridente na oposição. Bom para eles; e bom para nós todos, se a oposição for bem feita. Mas ambos já perderam a virgindade política há muito tempo e o PCP até governou Lisboa durante uma década com o PS. O presidente da câmara dessa época, Jorge Sampaio, até foi candidato a primeiro-ministro pelo PS. E daí? O PCP encolhia os ombros e dava a resposta certa: estava a trabalhar para Lisboa e os lisboetas.

As pessoas podem respeitar um partido por estar na oposição; as pessoas podem respeitar um partido por estar no poder. Podem respeitar um partido que está no poder numa cidade e na oposição no país - que dificuldade há em entender isso? Mas nunca respeitarão um partido que está no poder como se estivesse na oposição. Num momento dirão, é certo, que Sá Fernandes não passa de uma muleta do PS em Lisboa; caso o BE sucumbisse a esse canto da sereia, no momento seguinte diriam que uma ruptura foi pura irresponsabilidade e desrespeito por um compromisso.

Estas são apenas as razões negativas, assim alinhadas de forma um tanto cínica, para confrontar quem ande à procura da virgindade debaixo da cama. Mas há também razões positivas para não o fazer.

Ou melhor, é uma só, mas bem grande: governar, ainda que sectorialmente, uma cidade e poder experimentar as suas ideias é uma das coisas melhores que um partido pode fazer. Aproveitem enquanto dura. Vão ver que até se divertem.

de Rui Tavares - Público e cinco dias (com a devida vénia)

(um artigo que subscrevo como não podia deixar de ser)

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A solidariedade não existe  

A notícia de uma empresa que fechou com ou sem aviso prévio deixou de ser notícia. Saber que de repente, centenas de trabalhadores ficaram do dia para a noite, sem empregos e sem os únicos rendimentos, aqueles que pagam os empréstimos da casa, aquelas coisas comezinhas como comer ou vestir, comprar os medicamentos ou pagar a escola dos filhos, já não chamam a atenção de ninguém, poucos são os que se incomodam a sério, quase ninguém se inquieta, já não suscita raiva, indignação, cólera, já não causa protesto, os fechos das empresas passaram a ser banais e naturais, dizem-nos que agora é assim, que são as dinâmicas da economia, que é assim que as sociedades se desenvolvem e regeneram. O que me incomoda não é que os senhores de barriga cheia nos tentem impingir estas ideias. O que me irrita mesmo é que tenhamos desistido de lutar e sobretudo deixado de ser solidários com o sofrimento dos outros. Somos todos muito egoístas!

Este apontamento serve apenas para mostrar a minha solidariedade com os 32 trabalhadores do Primeiro de Janeiro, despedidos sem uma explicação, um esclarecimento, uma razão, ao mesmo tempo que o seu posto de trabalho era ocupado por outros trabalhadores do grupo, sem mais, sem cuidarem do dever de solidariedade com os seus colegas e camaradas de trabalho e de profissão, mas ao invés mostrarem-se maus companheiros, pessoas falhas de valores, oportunistas, esquecendo-se que o que hoje acontece aos seus colegas, lhes poderá acontecer a eles, num futuro mais próximo ou mais longínquo.

No Esgravetar, Filinto Melo, jornalista do O Primeiro de Janeiro, vai dando-nos conta das reacções e dos andamentos do processo.


Ser solidário-José Mário Branco

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A difícil coabitação de Sá Fernandes com o Bloco  

O Daniel Oliveira, com críticas certeiras, aborda no Expresso de hoje, a difícil coabitação do Bloco de Esquerda com o seu vereador independente Sá Fernandes.

Daniel Oliveira aponta vários erros do Bloco: a) ter logo após a assinatura do acordo de Lisboa com o PS excluído a possibilidade de posteriores acordos sem uma avaliação dos resultados b) ter exercido pressões públicas sobre o seu vereador c) ter feito coro público com alguma critica da oposição a Sá Fernandes d) não ter destacado como devia importantes feitos de Sá Fernandes, como a aprovação do Plano Verde, o processo de integração dos trabalhadores a recibo verde, o afastamento de José Miguel Júdice da administração da Frente Ribeirinha, o inicio da reestruturação da EPUL e) ter feito marcação em cima a cada falha de Sá Fernandes.

Daniel Oliveira diz que o Bloco perdeu várias oportunidades: a de mostrar que é capaz de assumir a responsabilidade de governar; a de mostrar que o poder local não deve estar subjugado a táctica partidárias; a de provar que o Bloco é capaz de trabalhar com independentes; a de demonstrar que o compromisso dos eleitos é com os eleitores e não com as máquinas partidárias.

Não podia estar mais de acordo com o Daniel Oliveira.

A minha posição é conhecida: o Bloco de Esquerda no seu todo tem lidado muito mal com Sá Fernandes. São muitos os exemplos e deles tenho dado conta aqui em vários artigos. As primeiras criticas vieram das correntes esquerdistas do Bloco depois foi a própria direcção do Bloco a mostrar-se incapaz de se libertar de complexos e preconceitos ideológicos. Mas sobre tudo isto, deixarei para mais tarde um balanço desta experiência única: a de ter responsabilidades executivas a de trabalhar com independentes e os resquícios dos "esquerdismos".

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